Sem pensar no futuro – Jornal Aqui

Vereadores já admitem revogar tombamento de vários imóveis, como o da antiga sede do Umuarama, na Vila


Por Vinícius de Oliveira

No século XX, depois dos áureos tempos do café, Volta Redonda emergiu no cenário nacional como um pujante polo industrial, graças à criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), fundada em 1941. Desde então, a cidade progrediu. Seu povo, de origem diversa, pôs a mão no aço e começou a escrever sua história, erigindo monumentos imponentes e construindo prédios nunca vistos em outro lugar. Muitos, inclusive, são tombados pelo Poder Público e viraram patrimônio cultural como forma de preservar a saga volta- redondense a seus descendentes. Ao todo, já são 18 imóveis tombados, mas a falta de preservação pode colocar 70 anos de história a perder.
Um desses patrimônios que correm o risco de corrosão é a sede da antiga Fazenda São João Batista, na Barreira Cravo. Tombada em 2007 pela Lei 4252, a propriedade, construída em 1820, segundo o site ipatrimonio.org, remonta ao período colonial português, com seus traços neoclássicos, dos tempos em que puris e coroados andavam por essas terras. Hoje, no entanto, já não se vê indícios do sítio cafeeiro que foi, nem das ornamentações típicas da época, como figuras de dragões em ferro fundido. Atualmente, é vigiada por uma matilha de cães raivosos e serve como casa para um homem de meia-idade autoidentificado como “sr. Aprígio”. Chama atenção o fato de que este também é o primeiro nome do último patriarca Barreira Cravo, o coronel Aprígio Alves Barreira Cravo.
O ‘nosso’ Aprígio – o posseiro – é um carran- cudo e desconfiado jardineiro que jura ter prestado serviços às irmãs herdeiras da família Barreira Cravo, últimas donas da propriedade. Vivendo sem luz elétrica, o velho mocozado mantém as flores vivas, apesar das ervas daninhas que insistem em crescer por todo o terreno, aos pés das frondosas árvores que o circundam, possíveis resquícios de Mata Atlântica.
Cabreiro, sr. Aprígio não permitiu a entrada da equipe de reportagem, mas garantiu preservar do seu jeito a história da Fazenda São João Batista, embora admita que, por dentro, não há mais sinais dos móveis originais da casa ou mesmo de recordações da família responsável pela doação das terras que deram origem a um dos bairros mais prósperos de Volta Redonda. “Eu sei que não pode modificar nada da propriedade. Inclusive estou restaurando aos poucos o lugar. Comecei pelo telhado”, contou.
Mas Aprígio não é o único habitante do lugar. Além de seus incontáveis cães vira-latas, mora lá, em uma casinha fora dos olhares curiosos de quem passa pela rua, uma senhora idosa, filha de um possível caseiro, que, quando vivo, também teria prestado serviços a Leonor Barreira Cravo, a filha caçula da famosa família. “O pai dela chegou aqui nos anos 1980, e sua filha ainda eraVinícius de Oliveira
No século XX, depois dos áureos tempos do café, Volta Redonda emergiu no cenário nacional como um pujante polo industrial, graças à criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), fundada em 1941. Desde então, a cidade progrediu. Seu povo, de origem diversa, pôs a mão no aço e começou a escrever sua história, erigindo monumentos imponentes e construindo prédios nunca vistos em outro lugar. Muitos, inclusive, são tombados pelo Poder Público e viraram patrimônio cultural como forma de preservar a saga volta- redondense a seus descendentes. Ao todo, já são 18 imóveis tombados, mas a falta de preservação pode colocar 70 anos de história a perder.
Um desses patrimônios que correm o risco de corrosão é a sede da antiga Fazenda São João Batista, na Barreira Cravo. Tombada em 2007 pela Lei 4252, a propriedade, construída em 1820, segundo o site ipatrimo nio.org, remonta ao período colonial português, com seus traços neoclássicos, dos tempos em que puris e coroados anda- vam por essas terras. Hoje, no entanto, já não se vê indícios do sítio cafeeiro que foi, nem das ornamentações típicas da épo- ca, como figuras de dra- gões em ferro fundido. Atualmente, é vigiada por uma matilha de cães raivosos e serve como casa para um homem de meia-idade autoiden- tificado como “sr. Aprígio”. Chama atenção o fato de que este também é o primeiro nome do último patriarca Barreira Cravo, o coronel Aprígio Alves Barreira Cravo.
O ‘nosso’ Aprígio – o posseiro – é um carran- cudo e desconfiado jardineiro que jura ter prestado serviços às irmãs herdeiras da família Barreira Cravo, últimas donas da propriedade. Vivendo sem luz elétrica, o velho mocozado mantém as flores vivas, apesar das ervas daninhas que insistem em crescer por todo o terreno, aos pés das frondosas árvores que o circundam, possíveis resquícios de Mata Atlântica.
Cabreiro, sr. Aprígio não permitiu a entrada da equipe de reportagem, mas garantiu preservar do seu jeito a história da Fazenda São João Batista, embora admita que, por dentro, não há mais sinais dos móveis originais da casa ou mesmo de recordações da família responsável pela doação das terras que deram origem a um dos bairros mais prósperos de Volta Redonda. “Eu sei que não pode modificar nada da propriedade. Inclusive estou restaurando aos poucos o lugar. Comecei pelo telhado”, contou.
Mas Aprígio não é o único habitante do lugar. Além de seus incontáveis cães vira-latas, mora lá, em uma casinha fora dos olhares curiosos de quem passa pela rua, uma senhora idosa, filha de um possível caseiro, que, quando vivo, também teria prestado serviços a Leonor Barreira Cravo, a filha caçula da famosa família. “O pai dela chegou aqui nos anos 1980, e sua filha ainda era muito nova. Desde então, vive aqui. Criou os filhos e hoje eles vêm visitá-la. Assim como eu, não tem para onde ir”, contou o jardineiro, cheio de histórias.
Conforme conta o ex-presidente do Conselho de Cultura de Volta Redonda, Carlos Eduardo Giglio, a sede da fazenda foi doada para o município por Leonor ainda em vida, para fazer dela um museu onde a história da família seria contada por gerações. “Mas até hoje os projetos não andaram. Quando fui presidente do Conselho de Cultura, conseguimos avançar com a limpeza do local, que carecia de reformas. Mas até o momento não vimos o desejo da doadora se concretizar”, lamenta Giglio.
Questionado se concorda que a propriedade tem inestimável valor histórico para a cidade do aço e, por isso, deveria ser aberta à visitação, Aprígio assentiu. Inclusive disse que não vê problema em abrir os portões enferrujados ao público, desde que a prefeitura conceda uma casa para que o ele possa morar. “Mas a prefeitura nunca se interessou por isso. A única vez que vi uma manifestação dela foi no ano do tombamento. Teve um coquetel aqui. Depois disso, nunca mais. Uma vez, um secretário de Cultura chamado Moa (Moacir Carvalho) che- gou a dizer que o prefeito Neto quer é imposto. De repente, se um empresário fizesse uma proposta para arrendar a casa e transformar tudo isso num condomínio fechado, o prefeito se interessaria”, entregou, afirmando que a prefeitura sequer tomou posse do local quando recebeu o imóvel como doação.
Assim como a antiga sede padece no esquecimento, outros patrimônios históricos também resistem precarizados, apesar dos esforços do secretário de Cultura, Anderson de Souza. Os maus-tratos à história já são vistos nos detalhes, como na falta de identificação própria dos bens tombados. Passando pelos mais importantes, como o Cine 9 de Abril, o Colégio Estadual Manoel Marinho, Hotel Bela Vista, Igreja Santa Cecília, Praça Brasil e tantos outros, aos totais irrelevantes, como as terras ociosas em poder da CSN (sim, elas foram tombadas em 1993). Aos poucos, sem indicadores do que significaram para a trajetória da cidade, todos vão deixando de compor a consciência coletiva dos volta-redon- denses, principalmente dos mais novos, enquanto os anos se passam.
Até a secretaria de Educação abriu mão da história que forjou a cidade do aço. Para quem não se lembra, até o final da segunda gestão Tere- zinha Gonçalves, havia um projeto conhecido como “tour na cidade”. Consistia em levar alunos do quarto ano do ensino fundamental a um passeio pelos principais pontos históricos do município enquanto as crianças ouviam histórias de luta, resistência e vitórias de seus antepassados.
Para Giglio, “o Poder Público é o principal descaracterizador” de um patrimônio cultural. “A população não sabe o que é patrimônio histórico, não sabe quem banca. Isso porque sequer são demarcados. Tem lugar por onde as pessoas passam todos os dias e não sabem do que se trata. É preciso que o Poder Público cumpra uma política séria de gestão desses bens”, avaliou Giglio.
Já o vereador Rodrigo Furtado, responsável pelas polêmicas leis de tombamento do Recreio do Trabalhador (2020) e do Umuarama (2022), concorda que a prefeitura não anda cuidando bem de seu patrimônio cultural. Segundo o parlamentar, que vivia um duelo com a CSN, a ideia era garantir que tais imóveis, de “valor inestimável para a cultura local”, fossem preservados como bens da população. Não deu certo. A empresa ganhou na Justiça o direito de reaver, um a um, seus imóveis arrendados junto com a privatização. “E o município não pode fazer nada, porque o tombamento garante que não haja mudanças na estrutura, mas não exige investimento do proprietário”, admitiu o vereador, reforçando que a prefeitura precisa dar mais transparência a esse tema e garantir que os cidadãos saibam por quais motivos os imóveis foram tombados.
Frustrado, o vereador até admite reverter o pro- cesso de tombamento. “Os imóveis estão aban- donados e, como estão tombados, apesar de manter o valor econômico, dificulta a sua venda. E assim assistimos a his- tória se perder”, lamenta.
Ao aQui, Anderson da Silva, secretário de Cultura, explicou que a solução passa pelo Plano Municipal de Cultura, atualmente defasado. “Ele é elaborado de 10 em 10 anos. E este ano pretendemos revisá-lo. Vamos inserir nele objetivos que vão cuidar desse acervo, como identificação e iluminação. Já contamos com o projeto ‘Centro de Memória’ para arquivar documentos e divulgar os patrimônios. Haverá um cronograma para dar conta disso”, explicou Anderson, salientando que a pasta tem um site onde consta todo o acervo da cidade, inclusive de monumentos tão carentes de cuidados quanto os imóveis tombados.
Anderson lembrou ainda que nem tudo cai na conta da Cultura. Segundo o secretário, o que diz respeito à restauração e até à preservação de bens culturais tombados é de responsabilidade do IPPU. “Claro, a secretaria de Cultura autoriza as intervenções, mas cabe ao IPPU acompanhar os bens edificados”, disse.

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