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Vereadores ignoram importância histórica das pedras portuguesas para a cidade do aço

Na segunda, 3, a edição digital do jornal Diário do Rio publicou uma reportagem mostrando que o show de Madonna – que encerrou sua turnê mundial na Praia de Copacabana, no dia 4 de maio – trouxe não apenas alegria aos fãs, mas também um rastro de problemas para o famoso calçadão da Avenida Atlântica (ver foto). A infraestrutura montada para o evento causou danos significativos ao piso de pedras portuguesas e ao canteiro central da orla, gerando uma série de repercussões negativas para o bairro.
O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, segundo o jornal, notificou a produtora Bonus Track, responsável pela organização do show, devido aos estragos. A instalação das estruturas metálicas para a construção do palco e das áreas para convi- dados resultou em buracos. A empresa chegou a informar que teria finalizado os reparos nos danos causados. No en- tanto, após uma nova vistoria, o Inepac não aprovou as inter- venções realizadas. Os laudos indicam que os problemas persistem, com espaçamento inadequado entre as pedras e a utilização de peças com cores diferentes das originais, prejudicando a integridade visual do calçadão, que é um dos cartões-postais da cidade.
A história do calçadão da Avenida Atlântica é longa e significativa. Inaugurada em 1906, a avenida inicialmente adotou o famoso traçado em ondas, conhecido como “mar largo”, em homenagem à herança cultural portuguesa. Na década de 1970, a avenida foi ampliada, e o paisagista Roberto Burle Marx foi convidado para modernizar o calçadão. As ondas, que eram perpendiculares à praia, passaram a ser paralelas a ela. Em 1991, o calçadão foi tombado como patrimônio cultural pelo Inepac, destacando sua importância histórica e cultural para a cidade.
Enquanto isso, a 240 km de distância, em Volta Redonda, como o aQui vem mostrando, a história das pedras portuguesas da Rua 33 terminou num lixo do bairro Volta Grande. Pior. As pedras de toda a Vila Santa Cecília, bairro nobre e comercial da cidade aço, correm o mesmo risco. Estão sendo retiradas, por exemplo, na área da pracinha do Banco do Brasil, em frente à fonte luminosa da Praça Brasil. Apesar das matérias feitas pelo aQui, até hoje, nenhum vereador de Volta Redonda se pronunciou a respeito. Mostram tremenda indiferença ao assunto.
O desprezo é mais do que evidente, pois, até então, nenhum dos 21 vereadores fez qualquer discurso no Legislativo contra a retirada das pedras portuguesas. Pior. Nenhum, até prova em contrário, estaria disposto a apresentar um projeto de lei para considerar patrimônio histórico a calçada de pedras portuguesas que cerca o antigo Escritório Central da CSN, que tem uma decoração única no Brasil. Os desenhos da calçada do que já foi o prédio mais famoso de Volta Redonda representam perfis de aço que eram fabricados na Usina Presidente Vargas. Pelo que representa, também deveria merecer atenção do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro.
Tema polêmico
Durante a semana, antes que a construtora contratada pelo governo do Estado para arrancar as pedras portuguesas de vários pontos da cidade chegasse ao Escritório Central, alguns vereadores foram procurados pelo aQui. E, vejam só, preferiram não se manifestar sobre o assunto. Um deles, pedindo anonimato, solicitou que ficasse de fora da reportagem. “Cara, me deixa fora dessa. É um tema polêmico, e não estou podendo nesse período de eleição criticar o prefeito (Neto)”, disse, esquecendo que a obra é do governo Cláudio Castro. Outros parlamentares, como Betinho Albertassi e Jorginho Fuede, também não se manifestaram.
Quem não fugiu do tema foi o vereador Sidney Dinho, que disse que até poderia ser favorável à remoção das pedras portuguesas, desde que elas fossem reaproveitadas. “Eficiente no meu entender seria fazer as calçadas de modo que os portadores de deficiência pudessem transitar sem dificuldades, o que os blocos de cimento não permitem”, destacou. Ele está certo. O piso intertravado que está sendo usado no lugar das pedras também necessita de manutenção. Se não for feita, vai começar a se soltar. Alguns blocos, por exemplo, já estariam esfarelando.
De acordo com Dinho, uma boa utilização para as pe- dras portuguesas – abandona- das no Volta Grande – seria o emprego em praças e jardins. “Mas de forma a não dificultar o deslocamento das pessoas idosas e portadoras de PCD. As pedras bonitas, de alto cus- to, que, se usadas de forma ori- entada por arquitetos, certa- mente trariam beleza a alguns pontos da cidade”, disse.
Questionado sobre um possível tombamento da calça- da do Escritório Central, Di- nho se posicionou de forma positiva – mas sem dizer se a- presentaria tal proposta. “Acho que seria uma ação positiva para que aquele prédio guarde um pouco da história de Volta Redonda. O Escritório Central é um marco no coração de Volta Redonda”, afirmou.
O vereador Renan Cury é outro que acha as pedras portuguesas lindas, mas completou dizendo que já recebeu reclamações de idosos e deficientes físicos sobre elas (que existem há várias décadas, grifo nosso). “Acho importante tentar manter as características do local, mas pensar nas pessoas com dificuldade de locomoção”, ponderou, salientando que as pedras retiradas poderiam ser utilizadas em muros/ fachadas. “Ainda seria legal que artistas da região pudessem expor sua arte em mosaicos feitos com as pedras”, opinou.

Quanto à ideia da calçada do Escritório Central virar patrimônio cultural, para evitar a retirada das pedras portu- guesas, Renan se mostrou cético. “Sou reticente quanto a tombamentos. Muitas coisas ficam travadas e impedem venda/evolução devido a isso. Tem que analisar bastante e ver o quanto isso poderia atrapa- lhar ou não”, completou. Pena que não teve a mesma posição quando da votação do projeto de tombamento do Clube Umuarama, que foi aprovado por unanimidade na Câmara de Volta Redonda.
Após o fechamento da reportagem, o vereador Raone Ferreira (PSB) respondeu a demanda do aQui sobre o assunto e se comprometeu a levar o tema sobre o tombamento de calçadas com pedras portuguesas para o Poder Legislativo.
“Enquanto historiador e parlamentar acredito que é preciso preservar a história e o patrimônio do nosso município. As pedras portuguesas foram retiradas de muitos pontos da cidade e foram substituídas por um material de péssima qualidade, o que evidencia um desres- peito a nossa história e um desperdício de dinheiro públi- co. Cheguei a aprovar o reque- rimento 263/2023, questio- nando o destino dessas, e a resposta é que as pedras estavam guardadas na antiga secretaria de Infraestrutura. Mas pelo visto o município abandonou esse material, como mostrado na foto do aQui, e não tem projeto para o seu uso. Defendo que algumas calçadas da Vila permaneçam com as pedras portuguesas e me comprometo a levar para discussão na câmara a possibilidade de um projeto de tombamento para as demais calçadas na cidade. Preservar a nossa história é preservar o que nos constitui enquanto cidadãos”, disse. NOTA DA REDAÇÃO
O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) foi procurado pela reportagem Não houve retorno. O prefeito Neto também foi procurado pelo aQui para falar sobre o assunto.

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