CSN passa a comprar sínter para reformar sinterização da UPV

Obras na sinterização devem terminar em 16 de julho

A eleição de 2024 já está aí. Daqui a pouco os brasileiros irão às urnas para escolher prefeitos e vereadores. E, como sempre acontece, a pré- campanha começa a pegar fogo. Vale tudo para conquistar o coração dos eleitores – e o voto. Em Barra Mansa, as primeiras fake news tiveram como alvo Luiz Furlani, pré- candidato a prefeito (ver página 5). Em Volta Redonda, a classe política já definiu em quem bater: a CSN, por conta do pó preto que cai sobre a cidade do aço desde que a usina foi inaugurada, em 1941. E que piorou com o passar dos anos. Nos últimos dias, por exemplo, a situação ficou crítica novamente, e diversos políticos voltaram a soltar cobras e lagartos para cima da siderúrgica.
O vereador Renan Cury, por exemplo, da base do prefeito Neto, saiu gritando que as ministras da Saúde e Meio Ambiente do governo Federal deveriam vir a Volta Redonda para inspecionar a Usina Presidente Vargas. Chegou a dizer que Lula, presidente, também deveria fazer o mesmo. Pelo menos não defendeu o fechamento da CSN, como fazem alguns ambientalistas, deputados estaduais e membros do MPE e do MPF.
O problema que aflige a classe política e boa parte da população de Volta Redonda tem a ver com a emissão de particulados oriundos da produção do aço – o famoso ‘pó preto’. Com o tempo seco dos últimos dias (não chove há três semanas, grifo nosso), a poluição e as reclamações aumentaram. Vídeos mostrando jovens varrendo uma quadra para jogar uma partida de futebol de salão logo surgiram. Fotos de carros, quintais e terraços cobertos de ‘pó preto’ foram as mais postadas nas redes sociais. O aumento, segundo a própria CSN, se daria justamente por conta das intervenções feitas pela siderúrgica – anunciadas bem antes da crise explodir, o que levou o prefeito Neto a cobrar explicações da empresa. “Estão sendo feitas para mitigar a emissão de particulados no município”, respondeu Fernando Lira, diretor da UPV. Ele foi além. Classificou a crise como um ‘efeito colateral’. Ou “uma emissão pontual de mais particulados”, justificou, ao responder ao Palácio 17 de Julho.
As cobranças aumentaram. “Não acredito”, foi a expressão mais usada nas redes sociais, principalmente em páginas ligadas a políticos de esquerda – pré- candidatos a vereadores. Para não perder a chance, já foi marcada uma nova manifestação contra a CSN. Será no dia 21 de julho.

Cartas
Com o aumento das postagens dos políticos da oposição e também de quem não é contra a CSN a respeito do aumento do ‘pó preto’ caindo sobre muitos bairros de Volta Redonda, o prefeito Neto teve que se manifestar. E divulgou, na segunda, 24, um ofício enviado cobrando da direção da CSN mais celeridade nos reparos dos equipamentos usados nas sinterizações da UPV. Detalhe: que já vêm passando por uma reforma. Só que, segundo Neto, as melhorias não estão sendo sentidas pela população. Muito pelo contrário. “Todos esperávamos que, com o início das reformas e o desligamento temporário de uma das sinterizações, a situação fosse melhorar. Infelizmente, isso não aconteceu. Dentro de nossas competências, vamos cobrar e acompanhar as reformas com mais atenção”, justificou.
Vale lembrar que Neto esteve, em maio, no interior da usina quando foi informado, oficialmente, do início das obras de modernização na UPV. Apesar do processo não ser imediato, ele afirmou na época que esperava que as melhorias tivessem efeitos práticos rapidamente. “No ofício, cobramos um cronograma prático e transparente de quando estes serviços que já estão acontecendo vão surtir efeito prático. Independente da aceleração das reformas, solicito que sejam adotadas medidas para a imediata redução das emissões, que nos últimos dias atingiram níveis alarmantes”, disse Neto. “Os níveis de emissão do pó preto estão insuportáveis”, completou, coberto de razão.
A bronca de Neto fez com que os políticos aproveitassem para falar do pó preto. Renan Cury, como já dissemos acima, foi um dos primeiros na nova crise a bater na CSN. “Estamos precisando da presença do governo Federal, do ministério do Meio Ambiente. Isso (a poluição) é um caso de saúde pública. Cadê a ministra da Saúde (Nísia Trindade), que é do Rio de Janeiro?”, disparou, esquecendo, entretanto, de cobrar a mesma postura do governo do Estado e do Instituto Estadual do Ambiente, responsáveis pela fiscalização da Usina Presidente Vargas.
Líder do governo Neto, o vereador Vander Temponi garante que todo dia
recebe mensagens de volta- redondenses reclamando da CSN. “A empresa nos chamou para uma reunião, nos mostrou que iria fazer investimentos, e até agora não vimos retorno”, reclamou. “A CSN precisa encarar esse problema de frente, tratar esse tema com seriedade. Precisamos de uma solução para esse problema. Estamos passando por um período de seca, e está causando problema respiratório em crianças e idosos”, acrescentou Paulo Conrado.

Audiência perto da eleição
Além das reclamações dos vereadores, a Câmara de Volta Redonda aprovou a realização de uma audiência pública para tratar do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado pela CSN e que vence ainda neste ano. No documento, a empresa se comprometia a fazer investimentos milionários na UPV. O detalhe é que a audiência, a pedido do vereador Rodrigo Furtado, deverá ocorrer a menos de duas semanas das eleições, pois foi marcada para o dia 19 de setembro. A justificativa oficial para isso, é claro, não seria eleitoreira e, sim, que oTACvenceem20de setembro.
Segundo Furtado, a ideia é fazer com que a CSN preste contas do que foi feito até o momento, desde a assinatura do termo de ajustamento de conduta em 2018. “Eu e toda a população não aguentamos mais tanta poluição na nossa cidade. Nossas famílias
estão cada vez mais doentes por conta dos problemas respiratórios que esse ar carregado de impurezas nos traz”, alegou.
O engraçado é que na terça, 25, enquanto os pré- candidatos esperneavam contra o pó preto e contra a CSN, o secretário estadual do Ambiente e Sustentabilidade do governo do Estado, Bernardo Rossi, esteve em Volta Redonda. Até prova em contrário, nenhum político local procurou o secretário para falar do caso da emissão de particulados da CSN. Nem para cobrar uma fiscalização maior por parte dos órgãos estaduais.
Na quarta, 26, a CSN respondeu ao ofício de Neto sobre a qualidade do ar na cidade do aço. Em carta, que o Palácio 17 de Julho tratou de divulgar nas redes sociais, a direção da siderúrgica comunicou que vai reduzir a produção de sínter – principal material responsável pelas emissões de poluentes atmosféricos – ao limite mínimo necessário para a manutenção dos altos-fornos operacionais. A ideia é reduzir o mais breve possível as emissões produzidas pelo setor de Sinterização, até que sua reforma esteja completamente concluída. Enquanto isso, segundo uma fonte, a CSN passará a adquirir placas de aço para manter a produção da UPV e atender os pedidos dos clientes.
A carta da CSN foi assinada pelo diretor executivo de Siderurgia, Alexandre Lyra, e ele garante que a percepção de melhora do ar acontecerá de forma breve (o que já ocorreu, vale frisar). Anunciou ainda a aquisição de dez novos canhões de névoa, que vão se juntar a outros 11 que já estavam em funcionamento; a aplicação de polímeros nas pilhas de matérias-primas e carvão; e a duplicação do efetivo de recursos avançados para limpeza, a fim de evitar o carregamento eólico do material disposto no interior da Usina Presidente Vargas.
Lira informou ainda que espera concluir até amanhã, domingo, 30, o reparo geral da Sinterização, com a substituição de 100 placas do sistema de captação de material particulado do Precipitador Eletrostático. Quanto à reforma da Sinterização 3, que inclui a troca de 600 placas, a previsão é de que esteja concluída até o dia 16 de julho, véspera do aniversário de Volta Redonda. Garantiu ainda que em setembro chegarão ao fim as obras de melhoria na Sinterização 2, “encerrando assim o primeiro ciclo de reformas nas sinterizações da UPV”.
Na resposta ao ofício de Neto, Fernando Lira ressaltou que o aumento das emissões do material particulado seria um efeito colateral pontual das obras em andamento, e que por conta das reclamações e cobranças – consideradas compreensíveis por parte da CSN –, a empresa teria tomado novas medidas para reduzir o incômodo causado à população até que as obras estejam completamente concluídas. Que assim seja.

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