Por Vinicius de Oliveira
As eleições deste ano, marcadas para 6 de outubro, serão disputadas por cerca de 300 candidatos a vereador, filiados a 16 partidos. Todos sonhando com uma das 21 cadeiras existentes na Câmara de Volta Redonda, onde até para uma simples visita é preciso cumprir alguns protocolos, surreais para os dias de hoje, de calor em torno de 40 graus, como não poder entrar, de bermudas, no caso deles, ou de shorts, no caso delas. Imagine, então, ser eleito e sentar- se em uma daquelas cadeiras de couro e dar pitacos sobre tudo o que acontece na cidade do aço… Para chegar lá, a regra é simples: vencer os puxadores de votos, ou pelo menos ficar logo atrás deles.
Toda nominata, em tese, tem os seus ‘puxadores de votos’, aqueles com mais chances de se eleger ou se reeleger. Apesar dos mais famosos serem campeões de votos, eles precisam, é claro, dos votos dos candidatos desconhecidos ou mesmo dos que já disputaram eleições passadas. É o caso das lideranças de movimentos sociais, de igrejas e até de bairros no primeiro caso e de ex- vereadores que sonham em retornar à Casa Legislativa.
E não é nada fácil. Afinal, como convencer alguém a sair candidato se, em tese, para se eleger em Volta Redonda, será preciso, no mínimo, de 1.500 votos, como calcula um experiente político local? “Com 6 mil votos, qualquer legenda deverá fazer um vereador. E este terá que ter, no mínimo, 1.500 votos para pensar em se eleger”, avalia Luciano Mineirinho, pré- candidato à reeleição pelo União Brasil.
Aliás, coube a Mineirinho jogar uma ducha de água fria nos sonhos de candidatos de todas as legendas que acreditavam, até então, que teriam chances de se eleger. Alguns até teriam desistido da candidatura quando o parlamentar mostrou uma lista ao prefeito Neto, elaborada por ele e divulgada com exclusividade pelo aQui, dizendo quantos vereadores cada partido poderia eleger em 6 de outubro. O União Brasil, por exemplo, pelos cálculos matemáticos de Mineirinho, deve fazer apenas dois. Ele e mais um. “Temos condições de eleger mais um”, aposta.
A lista de Mineirinho, que criou um rebuliço entre as legendas, sugere a manutenção da maioria dos vereadores. O prefeito Neto, inclusive, aposta na reeleição de 15 dos atuais 21 vereadores. Essa possibilidade por si só dificulta, principalmente, o desempenho dos novatos, sem contar a disputa por espaço. O Clube dos Funcionários, por exemplo, teria 15 candidatos entre os seus associados. “A eleição para vereador é a mais difícil de todas”, dispara Mineirinho.
Para tentar diminuir as dificuldades de atingir o eleitorado, Rodrigo Beltrão, ex-PV e que se lançou pré-candidato pelo PT, chegou a apresentar uma petição dos partidos de esquerda solicitando ao juiz eleitoral de Volta Redonda que permita a veiculação de propaganda dos candidatos pela TV, que só pode ser feita nas rádios locais. “Nasci e cresci em Volta Redonda e acredito que a nossa cidade tem o propósito de mudar o destino do nosso país, mas neste momento nós precisamos mudar o nosso próprio destino”, disparou Rodrigo, mostrando que, como muitos outros políticos, vai explorar a questão ambiental na sua campanha. “Estão causando a ruína da nossa cidade. Depois de muitos anos de trabalho buscando a justiça climática em Volta Redonda, não vi outra forma de lutar ainda mais por isso (saindo como pré-candidato)… para ocupar o poder público com as demandas urgentes da nossa cidade”, apregoa.
Pior é o caso das mulheres, novatas ou não, que costumam ser ainda mais afetadas pelos desafios da política. Se veem obrigadas a trabalhar, cuidar da casa, dos filhos e ainda correr atrás de votos. Tudo quase ao mesmo tempo. Não à toa, atender a cota de gênero dos partidos, que prevê um quantitativo proporcional ao de homens na legenda, é um desafio constante. O PRTB de Barra Mansa sabe bem como é.
Claudia Moura, diretora-geral da Escola Espírito Santo, em Volta Redonda, que é pré-candidata pelo PRD, sabe bem que suas chances são pequenas, assim como o seu partido. Detalhe: esse não foi o primeiro convite que aceitou para disputar as eleições. No primeiro, disse não sem hesitar. “Mas sempre ouvi que eu poderia fazer a diferença. É uma oportunidade de o município ter uma representatividade feminina no Legislativo. As mulheres encontram grandes dificuldades em ocupar espaços de poder, serem eleitas ou ter voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Decidi tentar, mesmo sabendo das dificuldades”, completou a pré- candidata, afirmando que a família foi sua maior entusiasta.
Liliana Siqueira, cria do Santa Rita do Zarur e moradora do Belmonte, também luta para movimentar a roda do poder. “De fato, ser uma mulher preta e de comunidade traz ainda mais desafios para minha pré-candidatura Mas não posso desanimar. O mundo hoje em dia diz que não existe preconceito. Em nome dos jovens negros que morrem todos os dias, dos LGBTs e das mulheres negras que são tratadas de modo preconceituoso na nossa sociedade, isso é o que me motiva. Sempre que vejo nos olhos de uma criança a esperança, fico motivada. Tenho uma grande vontade de ver na escola professores entusiasmados e bem remunerados. Precisamos de médico, atendimento digno para pessoas com deficiência e tantas outras coisas. Eu, como mãe, quero ir atrás desses recursos”, crê.
Pré-candidata, Lari, principal nome do Psol de Barra Mansa, ainda muito desconhecida do ‘povão’, destaca que, apesar das dificuldades, é essencial lutar por uma nova forma de fazer política. Assim como Liliana, Lari se identifica como mulher, preta, feminista e mãe, e vê na política um meio de mudar a vida das pessoas. “Sou criada em um partido cujas pessoas são ameaçadas e mortas porque defendem o que acreditam. Durante muito tempo, eu acreditei que não teria perfil, que [a Câmara] não era o meu lugar. Mas entendi que essa era a grande questão: eu senti uma necessidade de me movimentar para poder ocupar esse espaço. É como a Talíria sempre diz, a política é o preço do pão, então devemos nos interessar por ela”, pontua.
A cadeirante Ivoneia Fernandes, uma das novatas na política de Volta Redonda, é filiada ao PP, que tem o prefeito Neto como pré-candidato à reeleição. E deixa claro, logo de início, que pretende convencer os eleitores que acessibilidade é uma obrigação do Poder Público. Custe o que custar. “Hoje, percebo que as pessoas estão desacreditadas e falam que não gostam de política ou de políticos. Por outro lado, em qualquer roda de conversa o assunto está em evidência. Tive a oportunidade de encontrar-me com o prefeito Neto e com nosso vice, Sebastião Faria. Ao manifestar meu desejo de contribuir, eles me fizeram o convite e eu topei. Grandes dificuldades terei que enfrentar como pré-candidata, eu sei. Uma delas é abrir espaço para a mulher na política de Volta Redonda, mas pelo fato de ter trabalhado numa siderúrgica e em uma empresa que tinha uma linha muito conservadora na divisão de gêneros (Saint Gobain), posso garantir que não terei dificuldade alguma em enfrentar esta luta”, dis- se confiante.
E deve mesmo ficar, pois Ivoneia conta com o apoio do próprio prefeito de Volta Redonda. Na recente festa de lançamento do hospital H.FOA, prestigiada por mais de 500 convidados, Neto, diante da pré- candidata, que ainda luta por espaço entre os eleitores, a apresentava dizendo: “Essa é a Ivoneia. Ele é a minha candidata a vereadora”, dizia o chefe do Poder Executivo de Volta Redonda.
Quem também está acreditando no poder da política é Sérgio Loureiro, filho do empresário
Rogério Loureiro, dono da Excelsior e também assessor especial do Palácio 17 de Julho. O jovem não deixa por menos. Quer contribuir com a comunidade. “Venho de uma família bem-sucedida e muito trabalhadora. Acredito, no entanto, que essa posição me dá uma responsabilidade ainda maior. Há mais de 60 anos, meu avô e meu pai já contribuem para a sociedade com projetos sociais e oportunidades de emprego direta e indiretamente, através da Transporte Excelsior e Fundação Sérgio Loureiro. Meu desejo é perpetuar esse legado e ir além. Trago uma visão renovada e moderna sobre as questões que afetam nossa cidade. Estou atento às mudanças sociais e tecnológicas e acredito que podemos integrar essas inovações para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, desde a implementação de cidades inteligentes até a promoção de políticas sustentáveis e inclusivas”, argumenta o jovem Loureiro.