Peça utiliza a sátira para propor reflexões sobre o machismo
Considerada ousada para a época, “Escola de Mulheres” é uma peça de teatro escrita por Molière no século XVII, que ridicularizava a alta sociedade masculina por meio da exposição de suas atitudes risíveis para manter o domínio sobre as mulheres. Agora, o texto ganha canções, comicidade e técnicas da commedia dell’arte em uma adaptação comandada pelo Grupo Lunar de Teatro, de São Paulo. O espetáculo “Escola de Mulheres – Uma Sátira ao Patriarcado” será apresentado pela primeira vez no Rio de Janeiro, em um circuito pelo estado, que passará no Sesc Valença no dia 14, Sesc Teresópolis no dia 21, Sesc São João de Meriti no dia 22, e Sesc Niterói em 5 de dezembro, com apresentações acessíveis em libras.Ingressos gratuitos, retirados uma hora antes da apresentação.
A peça tem idealização de Suzana Muniz – que também é responsável pela direção e adaptação; e de Mau Machado – que assina a direção musical, música e letras. No elenco, Ana Clara Fischer, Angelina Miranda, Elvis Zemenoi, Lucas Sabatini, Mau Machado, Pamella Bravo, Suzana Muniz e Tom Freire.
A narrativa de “Escola de Mulheres – Uma Sátira ao Patriarcado” é contada a partir da fusão da cultura europeia do século XVII, que traz os tipos da commedia dell’arte, com o folclore popular brasileiro e seus elementos carnavalescos, além de buscar inspiração nas tradições afrobrasileiras e suas divindades como a Pombagira, representando a sensualidade e libertação feminina. Essa fusão traz à cena um espetáculo visualmente colorido, alegre e ritualístico, que também tem como base a linguagem de coro cênico.
No palco, assim como na história original, Inês (Ana Clara Fischer) é uma jovem inocente destinada a casar-se com Arnolfo (Mau Machado), um velho burguês que a escolheu quando ainda era uma criança e a educou para ser uma esposa, submissa e dependente. Entretanto, nesta livre adaptação, quando a jovem chega na idade de se casar, um sonho a desperta para um caminho diferente daquele arquitetado por seu suposto benfeitor.
Escrita há quase 400 anos, “Escola de Mulheres” continua sendo um texto extremamente atual. Em cena, o Grupo Lunar de Teatro joga luz sobre as reflexões de Molière, revendo a história pelo olhar feminino e com uma crítica ao machismo limitante, reforçando a importância da sororidade entre mulheres para enfrentar o patriarcado estrutural.
“Apesar da perspectiva original para a época, Molière manteve no núcleo patriarcal todas as discussões e decisões importantes do enredo da peça. A presença da mulher continuava sendo secundária. Por essa razão, a adaptação que trazemos mantém o canovaccio do autor mas atualiza o texto, alterando algumas passagens para dar voz às personagens femininas já presentes no texto original e trazendo novas vozes na forma das narradoras, responsáveis por um olhar externo (cúmplice do público) de quem conhece a história e sabe que ela deveria seguir outro rumo”, afirma Suzana Muniz.
A comédia, a sátira e as canções entram em cena como um recurso para abordar as temáticas de maneira leve, mas também acessível ao público.
“Falar por meio da sátira, do riso, da ironia e da música, trazendo temas urgentes através de um teatro mambembe, popular, sem a quarta parede, permite uma conexão única com a plateia. O riso é usado aqui como arma poderosa para aproximar o tema, tão delicado, a um público mais amplo, criticando o machismo limitante com leveza e alegria e apontando uma saída através da união e da sororidade feminina”, explica a diretora e idealizadora da peça.
Peça surge em momento conturbado da política brasileira
“Escola de Mulheres – Uma Sátira ao Patriarcado” nasceu em 2018, em São Paulo, quando o Brasil passava por uma fase de retrocessos em relação aos direitos das minorias.
“Comecei a buscar um texto clássico que pudesse mostrar o quanto as ideias pregadas naquele momento eram ultrapassadas. Durante esse processo, o Mau Machado se deparou com o livro ‘Escola de Mulheres’ em um sebo e trouxe a ideia de um coro de mulheres que pudessem, através do canto, apontar os absurdos do patriarcado. A partir daí começamos a desenhar o projeto”, revela Suzana, que também é líder do Grupo Lunar de Teatro, que tem em seu DNA a linguagem do coro cênico.
As canções são elemento-chave na obra e aportam uma musicalidade que mistura influências renascentistas com raízes, composições e arranjos brasileiros, mesclando o lírico com o popular, com o objetivo de provocar uma reflexão para além da sátira em texto, tornando-se um elemento fundamental ao compor um alerta crítico sobre o patriarcado.
“Desde o princípio, Mau Machado, criador e compositor das músicas originais da peça, queria trabalhar os temas com distanciamento, trazendo um olhar crítico para as situações da cena. Durante o processo de criação da peça foram levantados textos de escritoras como Joice Berth, Djamila Ribeiro, Bell Hooks, Silvia Federici e Maureen Murdock, entre outras, que inspiraram escritas das próprias atrizes. E esses textos serviram então de alimento para as letras originais das canções do espetáculo”, explica Suzana.
A peça já cumpriu temporadas em importantes casas paulistanas como o Teatro Itália e o Espaço Parlapatões, além de ter sido aclamada em festivais como o FENATEVI (Festival Internacional de Teatro da Cidade de Vitória) e o FNTRP (Festival Nacional de Teatro de Ribeirão Preto). Após passar por 12 cidades do interior de São Paulo, a circulação do espetáculo chega ao Rio de Janeiro impulsionada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2025.
Sinopse
“Escola de Mulheres – Uma Sátira ao Patriarcado” é uma livre adaptação do original de Molière, que alterna a narrativa do texto para as vozes femininas fazendo uma crítica ao machismo limitante. Inês é uma jovem inocente destinada a casar-se com Arnolfo, um velho burguês que a escolheu quando ela ainda era uma criança e a educou para ser uma esposa submissa e dependente. Entretanto, nesta versão do Grupo Lunar, quando a jovem chega na idade de se casar, um sonho a desperta para um caminho diferente daquele arquitetado por seu suposto benfeitor.