O ex-presidente do Brasil, José Sarney, contou à CNN alguns dos principais desafios enfrentados durante seu governo, o primeiro após o fim da ditadura militar.
A entrevista com o ex-presidente foi ao ar em reportagem no CNN Prime Time deste sábado (15), data em que se celebra os 40 anos do fim da ditadura.
Segundo o político, hoje aos 94 anos, o processo de se legitimar no cargo foi um dos “momentos mais difíceis” de seu governo, mas conseguiu fazê-lo por meio de sua “conduta”.
“Primeiro, legalizando todos aqueles partidos que estavam na clandestinidade. Dei anistia aos condenados de crimes de sangue, dei anistia também a todos os líderes sindicais. Retirei o Ministério do Trabalho de interferência na área sindical. Dei liberdade absoluta. Restaurei os municípios que eram de segurança nacional. Convoquei eleições já naquele ano para os municípios e as capitais”, elencou..
“Enfim, eu abri de uma maneira muito forte o país para os ventos da democracia”, acrescentou.
Retomada
A ditadura começou a ter data para acabar quando, em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil pelo voto indireto, por meio de um colégio eleitoral composto por deputados e senadores.
“Ele (Tancredo) foi um homem que a história preparou justamente para aquele momento da transição democrática. Ele conseguiu construir uma engenharia política de apoio de todas as correntes de todo o mundo, de modo que ele viabilizou a transição democrática através da passagem de um regime autoritário para um grande regime democrático”, disse Sarney, então vice na chapa de Tancredo, à CNN.
A posse foi marcada para dali a dois meses, e o Brasil, aos poucos, começava a se acostumar com o fim da ditadura militar instaurada no país 21 anos antes.
Redemocratização em xeque
A incerteza, no entanto, voltou na véspera da posse do novo presidente, quando, no Santuário de Dom Bosco, em Brasília, Tancredo sentiu-se mal durante uma missa.
Tancredo foi internado às pressas no Hospital de Base do Distrito Federal. A saúde do presidente eleito colocou em xeque não só a planejada posse, mas o processo de redemocratização do Brasil.
A madrugada do dia 15 de março de 1985 foi tensa, até que a sessão de posse do vice-presidente e futuro presidente do país, José Sarney, trouxesse de volta a esperança do fim da ditadura.
“Eu disse duas diretrizes: vamos fazer a transição democrática com os militares, e não contra os militares”, relembrou Sarney. “E se eu sou comandante-chefe, eu vou zelar pelos meus subordinados”, acrescentou.