PCC e CV: relatório aponta ligação entre facções no Rio de Janeiro

Um relatório do Ministério da Justiça e Segurança Pública alertou as autoridades do Rio de Janeiro sobre uma aliança entre as duas maiores facções criminosas do país. De acordo com o documento, apresentado há cerca de dois meses, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) se uniram para lavar dinheiro, traficar drogas e adquirir armamentos de guerra.

“O Comando Vermelho passou a usar essa sofisticação que o PCC já tem há muito tempo, que é dominar a lavagem de dinheiro e o uso estratégico dessas movimentações financeiras”, afirmou Victor dos Santos, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Segundo a Secretaria de Polícia Civil, a aliança ficou evidente a partir do rastreamento das transações financeiras das duas facções. As investigações revelaram que os criminosos chegaram a criar um banco digital para tentar disfarçar as operações.

“As duas organizações utilizavam o mesmo banco digital, a mesma fintech, para movimentar o dinheiro oriundo das atividades criminosas. O dinheiro passava por essa instituição e, em seguida, era pulverizado. Ou seja, esse banco digital operava para ambas as facções, e isso não foi por acaso”, explicou Felipe Curi, secretário de Polícia Civil.

Nesta quinta-feira (10), a Polícia Civil deflagrou a Operação Contenção, a maior da história contra o núcleo financeiro do Comando Vermelho. De acordo com a Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), PCC e CV movimentaram cerca de R$ 6 bilhões em um ano por meio de empresas de fachada e fintechs.

Esquema sofisticado

O esquema começou a ser desvendado após alertas de instituições financeiras sobre movimentações atípicas: depósitos semanais em dinheiro vivo, com notas de pequeno valor (R$ 5, R$ 10 e R$ 20), realizados por pessoas ligadas a comunidades dominadas pelo Comando Vermelho. Em uma das ações, a polícia apreendeu R$ 152 mil com uma pessoa que tentava realizar um desses depósitos.

Os valores eram centralizados em uma empresa de perfumaria registrada em São Paulo que, de acordo com a investigação, não existia de fato. A firma estava em nome de uma mulher inscrita em programas de auxílio emergencial e em situação de vulnerabilidade social. Sozinha, ela movimentou R$ 200 milhões em um ano.

Na sequência, o dinheiro era pulverizado para dezenas de empresas de fachada em diferentes segmentos, como floriculturas a plataformas contábeis, até ser consolidado em uma fintech chamada Fortbank, que atuava como banco digital intermediador de pagamentos sem autorização do Banco Central.

A sócia formal do Fortbank, uma jovem de 24 anos, sacou R$ 15 milhões em apenas três dias. Segundo os investigadores, o verdadeiro controlador da empresa seria o padrasto da jovem, cunhado de um dos chefes do PCC, atualmente preso.

Parte dos recursos era enviada a instituições financeiras em regiões de fronteira, como Paraguai e Bolívia, para a compra de drogas e armamentos. Outra parte retornava ao Rio de Janeiro como lucro e também abastecia um fundo da facção, uma espécie de “previdência paralela” que garante benefícios a familiares de presos e lideranças do Comando Vermelho.

“A operação de hoje atingiu todas as pontas do esquema: desde operadores financeiros que recebiam comissões pelos depósitos até empresários e empresas de fachada. Foram quase 30 empresas envolvidas, de ramos diversos como floricultura, contabilidade, transporte e publicidade, além do banco digital, que era o destino final desses recursos”, detalhou o delegado Jefferson Ferreira, da DRF.

A operação cumpriu 46 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e em São Paulo. Um dos alvos foi o operador financeiro Thiago Gonçalves, já procurado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele foi preso.

Ao todo, 100 agentes de diversas delegacias especializadas do Rio participaram da ação, com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) e da Polícia Civil de São Paulo.

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