O delegado interino de Pinheiral, Antonio Furtado, revelou nesta quarta-feira (7) que duas mulheres procuraram a delegacia local denunciando terem sofrido cyberbullying em uma mesma rede social, após a divulgação do caso de uma jornalista negra da cidade alvo deste tipo de crime e de injúria racial. Em razão da denúncia da jornalista, divulgada na última segunda-feira (5), Furtado instaurou no mesmo dia um inquérito para investigar os fatos. Segundo ele, seis pessoas foram identificadas e intimadas a comparecer à delegacia de Pinheiral para prestar esclarecimentos. Segundo ele, uma está sendo investigada por racismo e cyberbullying, três pelo segundo crime e duas por injúria e difamação.
O cyberbullying se caracteriza por atos de intimidação, humilhação, exposição vexatória, perseguição, calúnia e difamação por meio de ambientes virtuais, geralmente – de forma repetitiva e agressiva – em relação à aparência física, à opinião e ao comportamento social de uma mesma pessoa.
Uma das mulheres que procuraram a delegacia chegou a se emocionar ao contar à reportagem os ataques sofridos por ela e, principalmente, seu filho adolescente – que é autista. Segundo a mulher, de 46 anos, ela é “atacada sistematicamente” há pelo menos quatro anos por sua aparência física e por sua luta para garantir os direitos do filho. De acordo com ela, o bullying virtual contra seu filho ocorreu no ano passado, quando a comunidade virtual foi criada. Na ocasião, contou, um perfil falso dialogando com um participante comparou seu filho, de 14 anos, a um pet (cão), que deveria ser mantido na coleira.
Indignada, ela registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Pinheiral, mas, até então – embora o grupo tenha sido extinto – não havia sido dado andamento ao caso, sendo que o participante, que faz parte do grupo agora investigado pela Polícia Civil, mesmo sendo intimado, jamais compareceu à delegacia para revelar o verdadeiro perfil de quem atacou à ela e o adolescente.
Segundo a mulher – que é mãe solo e cuida sozinha do filho, sem apoio de uma rede familiar –, o ataque ocorreu porque seu filho, durante uma crise, tentou agredir algumas pessoas na rua. “Quando o autista está desregulado, tem uma rigidez cognitiva, não consegue verbalizar o que sente. Aí ele [perfil falso] escreveu que eu deveria deixar o ‘pet’ na coleira e que se um dia estivesse na rua e o ‘pet’ avançasse contra ele não responderia por seus atos”, disse, exibindo o print da postagem (veja abaixo), que pode ser interpretada como uma ameaça ao menor.
O delegado Antonio Furtado explicou que os casos que podem configurar injúria e difamação estão sendo investigados de forma separada, por se tratar de crime de menor potencial ofensivo e, portanto, analisados pelo Jecrim (Juizado Especial Criminal). “Os outros, de cyberbullying e de racismo, podem somar até nove anos [de detenção]”, adverte o delegado. “O caso está sendo investigado como celeridade, pois entendo que quanto mais grave é uma situação, com grande repercussão social, é preciso agir com maior rapidez”, acrescentou. (Foto: Polícia Civil)