A Polícia Civil, por meio da 94ª DP (Piraí), desarticulou na tarde da quinta-feira (dia 5) uma comunidade terapêutica clandestina onde ocorriam graves crimes de tortura. A operação contou com apoio da Polícia Militar, da Secretaria Municipal de Saúde e da Vigilância Sanitária.
Localizada no bairro Varjão, a instituição funcionava sem alvará e mantinha 43 internos, supostamente em tratamento para dependência química. No entanto, o que se descobriu no local foram práticas sistemáticas de espancamentos, dopagens forçadas e outras formas de tortura. Segundo o delegado titular da 94ª DP, Antonio Furtado, os internos relataram que eram amarrados, forçados a tomar coquetéis de medicamentos — chamados de “danoninho” pelos funcionários — e submetidos a agressões físicas como tapas, socos e até esganamentos.
“Os pacientes eram dopados com uma mistura de quatro ou cinco medicamentos, aplicada à força. Alguns ficavam desacordados por até cinco dias, acordando urinados, defecados e sendo novamente agredidos caso se recusassem a realizar tarefas de limpeza”, relatou o delegado. Os funcionários chegavam a imobilizar os pacientes com joelhos no estômago para forçar a ingestão da droga.
Entre as vítimas estão pessoas com transtornos mentais e idosos. Um dos pacientes relatou ter sido vítima de uma tentativa de afogamento em uma piscina e ataque de um cachorro atiçado por funcionários. Outro idoso foi mantido amarrado dentro de um banheiro por três dias e submetido a banhos gelados durante a madrugada.
Seis pessoas foram presas em flagrante: o coordenador do local, um terapeuta e quatro monitores. Eles vão responder pelos crimes de tortura e associação criminosa, cujas penas somadas podem chegar a 14 anos de prisão para cada um.
O dono da comunidade terapêutica foi identificado, mas ainda está foragido. Segundo a Polícia Civil, ele tinha conhecimento das práticas criminosas realizadas por sua equipe e responderá pelo crime de tortura por omissão, com pena de até quatro anos de reclusão.
Além das prisões, os órgãos de saúde e vigilância interditaram o local. Os internos foram resgatados e devem ser encaminhados a atendimento médico e psicológico.
Segundo apurado, os familiares dos internos pagavam até R$ 1.300 por mês pelo tratamento dos parentes, acreditando que estavam sendo cuidados adequadamente. “Era um ambiente de horror. Uma casa que deveria ser de recuperação, mas que se transformou em cenário de tortura e sofrimento. Felizmente, conseguimos pôr fim a isso”, concluiu o delegado Antonio Furtado.
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