Por Mateus Gusmão
A segurança pública tem ganhado protagonismo nas pautas eleitorais por todo o Brasil. Segundo levantamento recente do Instituto Quest, 81% dos moradores do Sudeste acreditam que a violência aumentou na região. E isso, claro, pesa onde mais dói para os políticos: nas urnas. Atentos a esse cenário – e amparados por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que ampliou o escopo de atuação das Guardas Municipais –, diversos prefeitos têm apostado alto em segurança. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes, por exemplo, está de olho na eleição para o governo do Estado em 2026.
E já deu o primeiro passo: conseguiu aprovar na Câmara de Vereadores um projeto que permite aos guardas municipais andar armados e ainda criou uma espécie de ‘tropa de elite’ da GM. A nova divisão, que poderá contar inclusive com militares reformados, terá foco no combate a pequenos delitos, mas sem atuar em áreas de risco – nem bater de frente com o tráfico. A decisão de Paes veio na esteira do STF, que reconheceu a possibilidade de atuação ostensiva das Guardas Municipais nas ruas. De acordo com os ministros, a GM pode, sim, ir além da vigilância patrimonial, desde que respeite as atribuições exclusivas das Polícias Civil e Militar.
Aliados do prefeito defendem que a medida é uma resposta à omissão do governo do Estado em matéria de segurança. Já os críticos acusam o movimento de ser puro oportunismo político. De um jeito ou de outro, Paes cravou seu nome na pauta mais sensível do eleitorado. E ele não está sozinho. Em Barra Mansa, como o aQui já revelou, o secretário de Ordem Pública, Daniel Abreu, quer ver os guardas da cidade armados. Em Volta Redonda, alguns deles já circulam armados pelas ruas.
De olho nas urnas
Em Volta Redonda, a segurança pública virou obsessão nos corredores do Palácio 17 de Julho – para, futuramente, favorecer o secretário de Ordem Pública, coronel Luiz Henrique, pré- candidato a deputado federal em 2026. Isso se as pesquisas provarem que ele poderá ter votos. E ele tem trabalhado para isso. Desde que voltou à cidade do aço, o oficial da PM, um carioca da gema, tem investido pesado para transformar a Guarda Municipal em uma espécie de polícia local. A ponto de levar parte do efetivo para cursos de capacitação que permitem o uso de armas de fogo.
Em 2021, a GM recebeu a doação de 34 pistolas calibre .40 da Polícia Rodoviária Federal. Em 2022, a Prefeitura comprou 80 coletes balísticos nível III-A (resistentes a disparos de pistolas 9mm e .40) e, no ano passado, investiu na compra de 65 mil munições. Mas o que tem causado polêmica é a atuação dos agentes contratados pela própria Secretaria de Ordem Pública. Eles ocupam cargos comissionados – ou seja, não passaram por concurso – e, ainda assim, atuam em ações ostensivas. Isso tem gerado atritos com a Guarda Municipal, que enxerga a ascensão da Semop como uma tentativa de enfraquecer a instituição. Os agentes da Semop circulam fardados, usam coletes à prova de bala, carros adesivados, sirenes e giroflex. No domingo, 11, por exemplo, uma imagem publicada em um grupo de WhatsApp do Sistema Integrado de Segurança mostrava dois carros da Semop parados na Avenida Amaral Peixoto, com a legenda: “Abordagem a indivíduos suspeitos nas imediações do Mercado Popular”.
Quiproquó nas redes
A tensão entre guardas municipais e agentes da Semop já foi parar no Ministério Público. Como revelou o aQui na edição de maio, alguns guardas denunciaram à Promotoria que a Secretaria de Ordem Pública estaria agindo fora da legalidade. Nas redes sociais, fãs da Semop e da GM seguem se digladiando sobre o tema. A publicação da reportagem incendiou as redes sociais. “A questão é que a guarda municipal é incompetente e está com ciúmes do trabalho ágil e estratégico da Ordem Pública. Para aqueles que não sabem, existe o WhatsApp da Ordem Pública no qual você pode ser atendido em segundos, ao contrário da guarda municipal que nunca atende”, escreveu um internauta identificado como Cardoso, defendendo a ação dos agentes de Luiz Henrique.
Ele foi rapidamente rebatido por Fernanda Souza: “Ágil e estratégico… sem treinamento, sem concurso e sem poder de polícia? Seria isso o ágil e estratégico que o Sr se refere? O engraçado é que na hora das ocorrências precisam da GM para multas e remoções. Isso parece mais cabide…cabide de emprego”, ironizou. Um perfil chamado @aguiavidacomproposito foi além: “Infelizmente a atual administração está investindo pesado na SEMOP porque percebeu que não consegue manipular politicamente a Guarda Municipal. Por isso, a guarda está com poucos agentes, viaturas insuficientes e com limitações de atuação. Os Guardas Municipais estão revoltados com a atual situação.
O prefeito está sucateando a Guarda. E pra piorar nomeou um comandante que não desenvolve nenhum projeto de crescimento pra Guarda. Lamentável”, completou. Se a briga é por poder ou por protagonismo na pauta da segurança, só o tempo e as urnas dirão. O fato é que, a pouco mais de um ano das eleições, a disputa entre guardas concursados e agentes comissionados promete render muitos capítulos, e pelo visto, muito barulho nas redes.