A economia do Brasil cresceu mais do que o esperado neste segundo trimestre. Mas apesar de exaltarem o bom resultado, economistas ouvidos pelo WW nesta terça-feira (3) apontam que essa alta é insustentável diante do aumento dos gastos públicos.
“O empuxo fiscal que estamos vivendo muito forte nos últimos dois anos leva ao crescimento, que é positivo, mas tem essa consequência. Não é sustentável e gera pressão inflacionária”, comenta à CNN o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Nesta terça, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reportou que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional cresceu 1,4% do primeiro trimestre para este. Vale ressalta que o resultado é de fato muito positivo, e que ninguém esperava a alta nessa intensidade.
De acordo com a Reuters, a mediana do mercado era de que a economia brasileira crescesse 0,9%.
Contudo, a alta foi puxada por um movimento que pressiona a inflação no país: gastos elevados.
“Nesse momento, grande parte do impulso do crescimento vem da política fiscal. Ela age no curto prazo, por demanda, e não tem pretensão de crescimento forte de longo prazo, de produtividade”, pontua Vale.
Para aumentar a produtividade, o país depende de investimento de qualidade. Mas enquanto esse desenvolvimento não vem, o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) e chefe de pesquisa da Julius Baer Family Office, Samuel Pessôa, aponta para um problema: a demanda tem crescido mais do que a oferta.
Na comparação semestral, enquanto a soma das riquezas do país cresceu 3,3%, Pessôa aponta que a demanda cresceu 4,7%.
“A gente olha principalmente essa defasagem, essa enorme distância entre o crescimento da demanda e o crescimento da oferta, o que sinaliza que vai para os preços”, pontua Pessôa no WW.
Com os fortes indícios dessas pressões inflacionárias, os dois economistas concordam em uma coisa: se restavam dúvidas de que os juros iam subir, a dúvida sai do radar e vira certeza.
Atualmente, a taxa básica de juros, a Selic, está em 10,5%. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) ocorre nos dias 18 e 19 de setembro, e há grande temor de que ela marque a volta do ciclo de alta da Selic.