As tarifas de 104% dos Estados Unidos contra importações da China passam a valer a partir da 1h01 desta quarta-feira (9) — pelo horário de Brasília —, conforme anunciado na véspera pela Casa Branca, em um movimento que escala a guerra comercial entre as duas maiores economias do globo.
O patamar da taxa é resultado de tarifas já impostas pelo governo republicano e respostas dos EUA em contra-tarifas anunciadas por Pequim:
Os Estados Unidos importaram US$ 439 bilhões em produtos da China em 2024, sendo esta a segunda maior fonte de importações, atrás somente do México.
Além da China, outras dezenas de países também passam a ter seus produtos taxados para entrarem no mercado norte-americano a partir das primeiras horas desta quarta.
O governo de Trump havia estipulado até 13h desta terça-feira (8) que a China recuasse em tarifas recíprocas. Pequim, no entanto, manteve a posição e classificou a atitude dos EUA como “chantagem”.
O Ministério do Comércio da China prometeu “tomar resolutamente contramedidas para salvaguardar seus próprios direitos e interesses” se os EUA implementarem as tarifas ameaçadas.
“A ameaça dos EUA de aumentar as tarifas sobre a China é um erro atrás do outro que mais uma vez expõe a natureza chantagista dos EUA. A China nunca aceitará isso. Se os EUA insistirem em seu próprio caminho, a China lutará até o fim”, disse a declaração.
Em postagem na sua rede social, Trump disse nesta terça de manhã que a China quer fechar um acordo com os EUA, “mas não sabem como começar”.
“A China também quer fazer um acordo, muito, mas eles não sabem como começar. Estamos esperando a ligação deles. Isso vai acontecer! DEUS ABENÇOE OS EUA”, escreveu Trump nesta terça.
Na noite de sexta-feira (4), a China apresentou uma queixa formal à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Segundo nota oficial do Ministério do Comércio chinês, as medidas norte-americanas representam “típica intimidação unilateral” e violam as normas estabelecidas pela OMC. O governo da China solicitou que os Estados Unidos suspendam imediatamente as sobretaxas.
Também na terça-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca afirmou que cerca de 70 países entraram em contato com Washington para iniciar negociações para reduzir o impacto da política tarifária do presidente norte-americano Donald Trump.
Mercados despencam
Em meio a todo esse imbróglio envolvendo as duas maiores economias do mundo, os mercados ao redor do globo despencaram.
O S&P 500 ficou abaixo dos 5 mil pontos pela primeira vez em quase um ano, com uma queda de 1,57%. Já o Nasdaq recuou 2,15% e o Dow Jones teve uma baixa de 0,84%.
Aqui no Brasil o dólar disparou e chegou a alcançar a marca dos R$ 6. No fechamento, a moeda norte-americana teve um avanço de 1,49%, cotada a R$ 5,9985 — maior valor de fechamento desde 21 de janeiro deste ano, quando encerrou a R$ 6,0313.
Retaliação Chinesa
Segundo a especialista em Ásia do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e sócia da Vallya Participações, Larissa Wachholz, a China pode estar se preparando para retaliar as recentes medidas impostas pelos EUA.
“Eles têm alguns instrumentos de retaliação, alguns analistas acreditam que têm mais oportunidades, mais nichos de retaliação do que antes”, afirmou.
A especialista destacou que as possíveis respostas da China podem incluir tanto medidas tarifárias quanto restrições à exportação de produtos importantes para os Estados Unidos, como terras raras.
Wachholz também destacou a possibilidade de barreiras não tarifárias, como restrições sanitárias para produtos agropecuários.
“Muito provavelmente, pensando naquilo que os Estados Unidos têm hoje capacidade de exportar para China e interesse de exportar, porque vários produtos de um valor agregado eles não querem exportar para China, o que a gente imagina que não só do ponto de vista das tarifas, mas também das barreiras não tarifárias, é que haverá a retaliação”
Larissa Wachholz
Tarifas “recíprocas” de Trump não são o que parecem; entenda
*Com CNN Internacional