As críticas do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, trazem um novo elemento de incerteza para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, segundo Jeferson Bittencourt, head de macroeconomia do ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional.
“A primeira consequência da entrevista do presidente para a política monetária foi colocar um ‘tempero’ num Copom que estava começando a ficar mais previsível”, apontou o economista ao WW desta terça-feira (18).
Na véspera da decisão do comitê sobre a taxa básica de juros do país, Lula, em entrevista à Rádio CBN, acusou o chefe da autarquia de ter lado político.
“E o comportamento do Banco Central, essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político, e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, disse o presidente.
Campos Neto é alvo de críticas do governo desde o início do mandato pela manutenção da Selic em um patamar elevado. Em agosto do ano passado, o BC iniciou um ciclo de cortes na taxa de juros, no ritmo de 0,5 ponto percentual por reunião. No último encontro, porém, o comitê decidiu colocar o pé no freio, para 0,25 ponto.
A decisão não foi bem recebida pelo mercado. Não pela redução, mas pela divisão da diretoria.
“[Um] sinal ruim foi transmitido pelo dissenso no último Copom, porque não foi um dissenso qualquer. Justamente os quatro indicados pelo presidente Lula votaram por uma queda maior“, explica Bittencourt.
À época, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscou apaziguar a situação reforçando que a ata indicou uma divisão técnica, e não política, como se especulava. Ainda sim, os grupos buscaram se unir.
“O ruído foi tão grande que entre o Copom anterior e o próximo houve uma convergência das falas dos dois grupos”, aponta o ex-secretário do Tesouro, reforça que estava-se caminhando para uma maior previsibilidade.
“O ruído de comunicação do último Copom foi muito grande, e todos os diretores entenderam – coincidência ou não – que aquela combinação de votos passou uma mensagem muito ruim.”
A “pimenta” que o presidente Lula coloca na decisão de amanhã é de potencialmente instigar novamente a divisão entre os indicados do governo anterior e os do atual.
Bittencourt questiona se “quem está cotado para assumir a presidência [do Banco Central] vai conseguir votar com o grupo que está sendo criticado”.
“Se o presidente [Lula] entende que o futuro presidente do Banco Central não pode ser altamente influenciado pelo mercado, a autonomia do Banco Central diz que o futuro presidente do Banco Central não deveria ser muito influenciado pelo governo”, concluiu o ex-secretário do Tesouro.
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