As tarifas impostas pelos Estados Unidos à China têm uma escala significativamente maior do que aquelas aplicadas aos países vizinhos, como Canadá e México, segundo o economista e ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Otaviano Canuto.
Em uma análise da atual situação comercial entre as nações, Canuto destaca a complexidade e as potenciais consequências dessas medidas econômicas.
Durante sua participação no programa WW desta terça-feira (4), Canuto explicou: “China 20% agora dessa vez, mas isso está sendo aplicado em cima de tarifas bem mais altas que tinham sido estabelecidas já desde o primeiro governo Trump e que não reverteram”. Esta observação ressalta a intensidade das medidas comerciais direcionadas especificamente à China.
Impacto nas relações comerciais regionais
Ao comparar as reações do Canadá e do México às políticas comerciais dos EUA, Canuto não vê diferenças significativas nas posturas adotadas por esses países.
Ele observa que, embora o México tenha uma dependência ligeiramente maior em relação às vendas para os Estados Unidos (27% do PIB) comparado ao Canadá (21% do PIB), ambos os países tendem a reagir de maneira similar às pressões comerciais americanas.
O economista alerta para as possíveis consequências negativas das tarifas impostas por Canadá e México, descrevendo-as como “tiros no próprio pé”. Ele argumenta que a atual configuração da produção industrial, especialmente no setor automobilístico, está estabelecida para maximizar a eficiência das empresas.
Qualquer alteração forçada nessa estrutura pode resultar em custos adicionais e ineficiências para a indústria manufatureira americana.
Visão controversa da administração americana
Canuto expressa preocupação com a mentalidade de figuras-chave na administração americana, como Robert Lighthizer e Peter Navarro, que parecem convencidas de que os superávits comerciais de outros países com os EUA representam uma forma de exploração.
Essa visão, segundo o economista, ignora os fatores subjacentes que contribuem para o déficit comercial americano, como o descompasso entre a demanda agregada e a capacidade de produção do país.
O ex-diretor do FMI critica duramente essa perspectiva, chamando-a de “loucura” e alertando para os riscos de se tentar reverter o déficit comercial operando em bases bilaterais.
Ele chega a mencionar uma proposta controversa de tratar a China de maneira similar à abordagem adotada com a União Soviética durante a Guerra Fria, classificando tais ideias como “crackpots” (malucas).
Canuto conclui ressaltando os impactos negativos da primeira guerra comercial iniciada por Trump, que não apenas prejudicou o setor agrícola americano, fazendo-o perder mercado para países como o Brasil, mas também causou danos significativos à indústria manufatureira dos Estados Unidos.