“Antes do tratamento comvo óleo à base de canabidiol, eu andava com auxílio de uma bengala. Depois de três meses usando o medicamento, eu consigo andar sozinha e voltei para as aulas de capoeira. As dores nas articulações melhoraram bastante e, com isso, me sinto mais tranquila. As dores me deixavam muito nervosa”. O drama relatado por D. Zina Maria Vaz Camacho, 68, diagnosticada com fibromialgia e artrose, não é raro. Muito pelo contrário. Atinge centenas de pessoas. Ou milhares.
A diferença é que a volta-redondense está sendo tratada na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Rústico, utilizando cinco gotas do óleo três vezes ao dia. O produto é disponibilizado pela prefeitura de Volta Redonda e chega até a casa da aposentada, no Retiro, de forma gratuita através do SUS (Sistema Único de Saúde). “Esse produto está mudando a minha qualidade de vida, eu recomendo que as pessoas aptas a usar o óleo procurem a rede municipal de saúde. Ainda há muito preconceito com o medicamento, mas devemos nos apegar aos resultados, que são muito satisfatórios”, aconselha D. Zina.
Dino Bezerra Antônio, 72, tem doença de Parkinson e está em tratamento com canabidiol há um ano e meio também na UBS Rústico. E conta que o tremor nas mãos – sintoma característico da doença degenerativa – apresentou uma
significativa melhora. Ele começou a usar o óleo na rede particular, mas, devido ao alto custo do produto, procurou a rede pública e, de fato, teve acesso ao tratamento. “A minha tremedeira nas mãos diminuiu. Tomo dez gotas três vezes ao dia, são gotas milagrosas, os dedos dos meus pés estavam atrofiando e, depois do cannabis, notei que consigo flexioná-los, tenho mais disposição para as tarefas do dia a dia”, pontua Dino Antônio, que mora no Parque das Ilhas e também recebe o produto em casa.
‘Gotas milagrosas’
As gotas consideradas milagrosas pelos pacientes foram prescritas pelo médico de Saúde da Família, com especialização em cannabis medicinal, Rodrigo Pacheco. Ele atende, sempre às segundas-feiras, na UBS
Rústico, os pacientes com indicação ao tratamento à base de canabidiol. Entretanto, outros médicos da rede municipal de saúde estão habilitados na prescrição, desde que os pacientes tenham indicação clínica para o tratamento. “Estão recebendo o óleo pessoas que sofrem de epilepsia refratária; Transtorno do Espectro Autista (TEA); doenças de Parkinson e de Alzheimer – que são acompanhados nos serviços especializados na rede pública de Volta Redonda, sendo que a prioridade é para os pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais”, conta Rodrigo Pacheco.
Após a aprovação da Lei Municipal, de autoria do vereador Paulinho AP, que permitiu a introdução da cannabis medicinal em Volta Redonda, a Secretaria de Saúde se organizou de forma a permitir que profissionais de saúde, que já estavam praticando a prescrição desse produto, o fizessem na rede pública. O médico de Saúde da Família e sanitarista Carlos Vasconcellos, um dos incentivadores da cannabis medicinal na rede municipal, destaca o trabalho da saúde pública de Volta Redonda.
“Com isso, foi iniciado nos serviços de reabilitação e neurologia um ambulatório, que funciona de maneira referenciada, ou seja, por encaminhamento na Unidade Básica de Saúde do Rústico, com atendimento semanal e dois médicos, eu e o doutor Rodrigo Pacheco. E além disso, no desenvolvimento de ações de capacitação, matriciamento e reorganização da Rede da Atenção Primária das unidades básicas de Saúde, de maneira que hoje os cidadãos que apresentam as patologias cobertas pelo Programa Municipal são encaminhados pelo sistema de regulação e atendidos no ambulatório. A partir daí, permanece sob o cuidado articulado, tanto da Atenção Primária quanto do serviço especializado”, afirma Carlos, acrescentando: “Até o momento, o município já atendeu mais de 400 pessoas e pretende dar sequência a esse cuidado, visto os resultados excelentes que temos observado com a melhora clínica dos pacientes e a da qualidade de vida”, detalha.
A coordenadora da UBS Rústico, Shynara Fernandes Maurício, vai além. Diz que os pacientes relatam melhora na qualidade de vida já no segundo mês de uso do óleo. “Em média atendemos, às segundas- feiras, cerca de dez pacientes em tratamento com o doutor Rodrigo. As demandas extras são atendidas às quartas e sextas pelo médico de Saúde da Família e sanitarista Carlos Vasconcellos. Em relação à satisfação desses pacientes, tem um resultado muito bom. A gente tem pacientes com Parkinson que não conseguiam se alimentar com as mãos , e com o uso do canabidiol isso mudou completamente. Os pacientes elogiam muito o tratamento no autismo também, as crianças vinham para a unidade muito agitadas e depois identificamos uma tranquilidade, comprovando a eficácia do tratamento”, disse, lembrando que a rede municipal de saúde faz uma busca ativa dos pacientes que possuem diagnóstico compatível para a medicação à base de canabidiol.
“Através da comunicação via telefone, a gente faz a busca ativa. Às vezes, os próprios médicos entram em contato com os pacientes que já estão em tratamento. Para ter acesso ao tratamento, o paciente passa pelo médico da sua unidade, que vai avaliar as necessidades. Estando apto, ele será inserido numa fila de espera para o cannabis medicinal e aí tem as classificações de acordo com o paciente, que pode ser vermelho, que é aquele emergencial, o amarelo ou verde, de acordo com a patologia do paciente”, ressalta.