02/06/2025 16:04

Em Volta Redonda, Escola Dr. Hilton Rocha é referência para a inclusão e independência de quem tem deficiência visual

Unidade atende a 85 estudantes, e objetivo é ampliar esse número com a entrega, em breve, do novo prédio da instituição, ampliado e modernizado, no bairro Voldac

 

Volta Redonda tem sido referência nacional nos cuidados com as pessoas com deficiência (PCDs), e podemos incluir aí a integração com a educação – e sempre na vanguarda para melhorar a qualidade no atendimento aos mais diversos grupos. Atualmente, a Secretaria Municipal de Educação (SME) está nos estágios finais da construção do novo prédio que vai abrir a Escola Municipal Especializada Dr. Hilton Rocha, no bairro Voldac, no mesmo local em que ela funcionava.

Atualmente, a unidade realiza suas mais diversas atividades no bairro Aterrado, onde atende a 85 estudantes, sendo que a capacidade, mesmo no local atual, permitiria atender a um público ainda maior de deficientes visuais e deficiências múltiplas – e que vai aumentar de forma considerável quando a Escola Dr. Hilton Rocha retornar para o Voldac.

A deficiência visual é uma condição que pode atingir a pessoa nos mais diversos estágios de sua vida, seja por questões genéticas, sequelas de outros problemas de saúde ou em razão de um acidente, entre outros. Muitas vezes, o próprio paciente, ou seus familiares, desconhecem o serviço oferecido pela prefeitura via SME – e a melhor forma de apresentar o trabalho da escola é por meio da informação.

A Dr. Hilton Rocha é uma escola especializada no atendimento a pessoas com deficiência visual, que oferece uma proposta pedagógica abrangente, com foco na promoção da autonomia, da aprendizagem e da inclusão social. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é realizado no contraturno da escola regular e atende estudantes de diferentes idades. A instituição também mantém um projeto-piloto voltado para alunos com deficiência múltipla.

Além do trabalho com crianças e jovens, a escola promove ações de reabilitação para adultos que perderam a visão ao longo da vida. Essas iniciativas reforçam o compromisso da instituição com a educação inclusiva e o desenvolvimento integral das pessoas com deficiência visual, sempre respeitando suas potencialidades e particularidades.

A diretora-geral da Escola Municipal Especializada Dr. Hilton Rocha, Vera Lúcia Ferreira Cruz, comentou sobre os objetivos da instituição. “Nosso foco é garantir acesso, inclusão e independência para cada estudante. Aqui, acreditamos no potencial de todos os estudantes, familiares e profissionais. Aproveitamos para convidar as pessoas com deficiência visual para conhecerem a nossa escola e fazerem parte do nosso time de vencedores.”

Seguindo em frente

Um dos adultos que passam por reabilitação graças à escola é Quézia Moreira, 38 anos, moradora do Siderlândia. Ela conta que, por ser diabética, sofreu descolamento de retina em ambos os olhos em 2017, o que a fez perder a visão. Já no ano seguinte, ela começou a frequentar a Escola Dr. Hilton Rocha, onde tem aulas de bateria, orientação e mobilidade, informática, rádio novela e leitura e reflexão.

“Quando tomamos conhecimento da escola, eu e minha mãe viemos para conhecer, fiz uma entrevista, e desde então frequento o espaço”, diz, comentando, ainda, a importância da escola em vários aspectos de usa vida.

“Quando perdi a visão, passei por um momento de luto imediato. Mas ele não durou muito, porque entrei na escola em 2018, então não tive muito esse período de cair em depressão. A escola me ajudou a interagir com a sociedade, apresentou formas de viver essa nova vida a partir da minha limitação. Afinal, a vida não para, né? Aprendemos que continuamos capazes, aprendemos muitas coisas com os profissionais, os outros alunos, são pessoas com a mesma história e que nos trazem um aprendizado enorme.”

Contra todas as adversidades

Izabel Fumian Egídio, 28 anos, do bairro São João, participava na última segunda-feira (26) da aula de assinatura por um motivo especial: noiva, ela e o noivo pretendem concluir a casa que estão construindo até o fim do ano, para poderem se casar. E, para tanto, é preciso a maior independência possível para lidar com as questões cotidianas.

Izabel chega a esse ponto de sua vida após superar uma série de adversidades que fariam muitos desistirem logo no início. “Eu nasci sem a íris, e tinha baixa visão. Com menos de dois anos descobriram um tumor em um dos rins, que precisou ser extraído, e que os médicos acreditam que pode ter afetado ainda mais a minha visão. Cheguei a ser alfabetizada, mas surgiram outros problemas, como glaucoma, catarata, e fui perdendo (o pouco da visão) aos poucos”, relembra.

A perda total da visão se deu em 2021, quando o seu único rim paralisou e ela precisou passar por hemodiálise e, por fim, um transplante – o que provocou a perda total da visão. “Precisei me readaptar mais uma vez, pois com a baixa visão eu ainda conseguia observar as pessoas, desviar de alguma coisa. Fiquei mais insegura.”

Foi aí que a Escola Dr. Hilton Rocha voltou a ser importante em sua vida. “Eu frequento aqui desde meus cinco anos de idade, foi onde me formei no ensino médio. Voltei depois de ter perdido a visão para poder fazer as aulas de assinatura, e também faço artesanato, tricô, crochê, que são ótimos passatempos.”

Outra aula importante tem sido a de orientação e mobilidade. “Voltei a fazer depois de 2021 e tem sido muito bom. A gente aprende a fazer as compras no supermercado, por exemplo, escolher frutas, verduras; coisas que serão muito importantes agora, que vou me casar, para não ficarmos dependentes de outras pessoas ou familiares.”

Um lugar de amigos

Para quem enfrenta a falta de visão há décadas, a Escola Dr. Hilton Rocha ganhou outros significados. É o caso de Conceição Maria de Souza Pereira, 81 anos, do Retiro. Ela ficou cega há 45 anos, devido a uma degeneração macular, e precisou se aposentar da profissão de professora. Ela frequenta a instituição há décadas, e a escola tem ajudado a enfrentar a perda de seus dois filhos, no ano passado, além de ter ficado viúva há alguns anos.

“A escola sempre me ajudou muito, porque eu não podia mais trabalhar, sentia muita falta. E meus filhos foram crescendo, ficando independentes, por isso ficava muito sozinha. Recorri à escola para ter alguma coisa para preencher o tempo. Isso muito me ajudou, e continua me ajudando, porque aqui posso me manter ativa, ter algo para fazer”, diz ela, que marca presença toda segunda-feira para atividades como a de artesanato.

“Gosto de todos aqui, são meus amigos. É o período em que eu passo – como falei com uma amiga – dando algumas gargalhadas. E dos professores só posso dizer coisas boas, são todos muito amigos, companheiros.”

Por fim, ela manda um recado para quem tem baixa ou perda total de visão, e por algum motivo reluta em procurar a escola. “Procurem conhecer a escola e enfrentar a situação. Se dependermos muito da família, às vezes a gente fica um pouco presa, porque eles ficam com medo. Nós temos que perder o medo e ter coragem de partir para uma vida melhor, porque isso aqui nos dá condição de uma vida melhor. Você ficar só dentro de casa, dentro de um quarto, de uma sala, é muito triste. Saiam para a vida, é muito bom isso aqui, pois nos distraímos e aprendemos muita coisa. Temos que ir à luta.”

A nova sede

Para oferecer uma estrutura melhor para seus estudantes, a Escola Municipal Especializada Dr. Hilton Rocha precisou deixar sua sede no Voldac para que um novo prédio, mais moderno, amplo, com melhor acessibilidade e estrutura para as atividades, fosse construído, enquanto o antigo prédio foi demolido.

O investimento total na construção da nova Escola Hilton Rocha chega a cerca de R$ 4,1 milhões, visando aprimorar o atendimento prestado tanto aos alunos quanto aos profissionais da instituição. A nova unidade contará com um edifício principal de três andares, além de uma estrutura anexa. Nos dois primeiros pavimentos, haverá salas destinadas à estimulação precoce, estimulação visual, avaliação, aulas de informática, música e alfabetização, além de espaços de apoio, Direção, Secretaria, refeitório, banheiros adaptados, cozinha, despensa, depósito, auditório e biblioteca.

O terceiro andar será ocupado por um Jardim Sensorial, especialmente projetado para promover a exploração tátil, olfativa e gustativa por meio de diversas plantas, além de contar com área de fisioterapia, espaços de circulação, banheiros acessíveis e depósitos.

A Escola Dr. Hilton Rocha atende estudantes da rede municipal de Volta Redonda, de municípios próximos, de escolas particulares e membros da comunidade, abrangendo crianças, adolescentes e adultos que recebem Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contraturno. Também oferece suporte para pessoas em processo de perda de visão.

O prefeito Antonio Francisco espera que, com a nova estrutura, a Dr. Hilton Rocha possa ajudar a ainda mais pessoas que sofram com algum tipo de deficiência visual.

“Nós estamos reconstruindo do zero não apenas para os atuais estudantes, mas para os tantos outros de Volta Redonda e região que necessitem de algum tipo de assistência para poderem ter sua autonomia e independência. Por isso, vamos divulgar a Escola Dr. Hilton Rocha o máximo possível, e pedimos à população que fale sobre os serviços da escola caso conheça alguém com alguma deficiência visual. E que os pais e demais parentes não fiquem com medo de que a pessoa fique estigmatizada, pois nossa escola tem o objetivo de ensinar, tornar essas pessoas cidadãs plenas, com os mesmos direitos e condições de acessibilidade, independência e inclusão”, salientou.

Fotos de Geraldo Gonçalves – Secom/PMVR.

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