Se as investigações do caso do laboratório envolvido no escândalo das infecções por HIV forem aprofundadas, provavelmente vão bater na porta do Hospital Regional,
localizado em Volta Redonda. É que uma das muitas empresas que prestam serviços à unidade pertence a um homem que é sócio, em outra empresa, do dono do laboratório PCS Lab Saleme. Trata-se da LLR Médicos Associados, de Fabrício da Silva Rocha. Fabrício tem negócios com Matheus Teixeira Vieira, dono do PCS Saleme e primo do ex-secretário de estado de Saúde, o deputado federal Luiz Antônio, o Doutor Luizinho.
O contrato da LLR Médicos Associados com o Hospital Regional é recente. Foi assinado em abril e não tem prazo certo para terminar. A empresa foi contratada pela OS Ideas – responsável pela gestão do Hospital Regional – para realizar serviços de diagnóstico por imagem (radiologia), ao preço máximo mensal de R$ 127.605,00. Uma cláusula do contrato permite que o valor exceda, desde que seja aprovado pela Área Orçamentária Executiva da OS Ideas e o pagamento seja requerido à parte. Em um ano, o montante contratado – excluindo os possíveis valores que excederem – pode ultrapassar a cifra de R$ 1,5 milhão.
O aQui teve acesso ao contrato que a LLR Médicos Associados tem com o Hospital Regional. Ele não tem vigência fixa, podendo durar até 36 meses a contar do dia que foi assinado, 27 de abril de 2024, e ainda pode sofrer reajustes de valores a cada 12 meses. Porém, o que mais chama a atenção é que o endereço da LLR é o mesmo do PCS Lab Saleme. Ambos têm sede no centro de Nova Iguaçu, na Travessa Quaresma, nº 30, sala 101. Aliás, esta não é a única coincidência entre as empresas. Fabrício seria técnico de laboratório e de raio-x que ascendeu depois que se tornou sócio de Matheus – primo de Dr. Luizinho. Outra suposta coincidência seria em relação ao ano de criação da LLR Médicos Associados. Segundo o site da Receita Federal, ela foi criada em 2018, ano que Dr. Luizinho era secretário de Estado de Saúde no governo Pezão (2016-2018).
Na época, a empresa usava o nome fantasia de Key-imagem e segundo a Classificação Nacional de Atividade Econômica (Cnae), foi autorizada a executar serviços de complementação diagnóstica e terapêutica. Curiosamente, o aQui não encontrou o registro da LLR no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) – condição obrigatória para a operação legal de todos os estabelecimentos de saúde no Brasil, público ou privado.
Outros contratos
Fabrício da Silva Rocha possui ainda outros contratos (através da Fundação Saúde) e já recebeu, nos últimos anos, mais de R$ 5 milhões do governo do Rio. Um dos mais recentes foi assinado este ano para prestação de serviços no Hospital Estadual Ricardo Cruz (Hercruz), também de Nova Iguaçu. Por ele, a LLR vai receber R$ 2.865.998,16, em parcelas mensais de R$ 238.833,16, que estão sendo depositadas, conforme prevê o contrato, em uma conta corrente do Bradesco em nome de Fabrício.
A contratação para o Hercruz dispensou licitação, o que pode levantar suspeitas de irregularidades, uma vez que o contrato não foi celebrado em um contexto de emergência em saúde pública (a exemplo da pandemia da Covid). Muito menos se encaixa na condição de inexigibilidade de licitação (quando não há empresas concorrentes no mercado paramexecutar o mesmo serviço). Situação semelhante aconteceu no Hospital Regional, onde amcontratação dos serviços da LLR não passou por licitação. Embora o acordo tenha sido assinado entre duas empresas privadas (OS Ideas e a LLR), a fonte de custeio é o Estado.
O aQui enviou um e-mail para a empresa LLR Médicos Associados para saber da relação com o PCS Lab Saleme, mas, até o fechamento desta edição, não houve retorno. Na semana passada, a reportagem do jornal tentou falar com Dr Luizinho, mas sua assessoria disse que ele não daria entrevistas e tudo o que tinha para falar já teria sido dito nas três notas oficiais divulgadas por ele desde que estourou o escândalo envolvendo a empresa de seu primo. Quanto à OS Ideas, a SES-RJ soltou um comunicado à imprensa, em meados de outubro, informando que a Controladoria Geral do Estado estava avaliando todos os contratos (diretos e indiretos) da Fundação Saúde. Pelo visto, ainda não bateram na porta do Hospital Regional.