A Selic no patamar de 14,75% tem algumas justificativas que residem no cenário macroeconômico atual, sobretudo na política fiscal, a inércia da inflação e a pressão dos serviços, indicam analistas ouvidos pela CNN.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou os juros em 0,5 ponto, jogando a taxa básica no maior patamar desde 2006.
Com a pressão em cima da inflação acima da meta, para especialistas é óbvio que o Comitê de Política Monetária (Copom) fizesse um movimento altista em relação à Selic.
“O que a gente tem hoje é justamente esse cenário que faz com que haja necessidade das taxas de juros estarem em um patamar restritivo”, diz o economista do Instituto Brasileiro de Economia (FGV-Ibre) Matheus Dias.
O cenário internacional acaba afetando pouco pelo lado comercial, mas isso tem um impacto financeiro, afirma Dias. Com uma maior volatilidade internacional, o interno também acaba afetado diretamente pela falta de controle do consumo.
“A questão dos impactos [da inflação] acabam sendo muito difíceis de se estimar e aí vem a incerteza elevada e consequentemente essa dificuldade nas decisões de política monetária. O Banco Central age com mais cautela em meio a esse momento de incerteza e volatilidade”, aponta.
Para o economista e sócio da G5 Partners Luis Otávio Leal, cada momento histórico tem seu problema. Para ele, algo que mantém a política de juros alta para os padrões econômicos mundiais é a estrutura da economia brasileira.
Um dos grandes problemas que constroem essa inércia reside também na inflação de serviços.
Entre 2003 e 2004 a inflação chegou próximo de níveis de 16% e por isso os juros chegaram na época a 19,75% em 2005.
Quando em 2006, segundo Leal, o Brasil estava em um processo de desaceleração da inflação e consequentemente de redução dos juros, a inflação de serviços estava em 6,04%.
“O que temos em comum tanto em 2006 e quanto agora em 2025 é um processo muito forte de inflação de serviços. É muito difícil você conseguir trazer essa inflação de serviços para baixo com o aumento do salário mínimo no ano passado próximo dos 8%”, aponta.
“As similaridades entre esses períodos estão em um momento onde havia uma política de valorização do salário mínimo como a gente tinha agora e em 2006. Isso gera uma inércia da inflação muito grande”, revela.
A questão fiscal também foi citada como ponto para a decisão. Em nota, o BC ressaltou que política fiscal atua na percepção das expectativas do mercado.
“O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”.
Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (IEGV/ACSP), o fator de gastos públicos ajuda a pressionar as decisões do colegiado.
“Apesar da desaceleração gradual da atividade econômica interna e do aumento das incertezas externas, que tendem a diminuir a pressão sobre os preços, houve aceleração da inflação corrente, que se mantém acima da meta anual, num contexto de expansão fiscal e expectativas inflacionárias ainda desancoradas, justificando uma política monetária contracionista”.
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