Frei Gilson: entenda polêmica envolvendo católico, bolsonaristas e esquerda

Nos últimos dias, Gilson da Silva Pupo Azevedo, o frei Gilson, de 38 anos, tornou-se figura central de um embate na internet entre bolsonaristas e a esquerda.

Com milhões de seguidores nas redes sociais, o sacerdote membro da congregação Carmelitas Mensageiros do Espírito Santo tem reunido fiéis em transmissões ao vivo feitas às madrugadas para rezar durante a Quaresma, período de penitência e reflexão que antecede a Páscoa.

As lives do frei contam por vezes com a participação de personalidades conhecidas, como o humorista e apresentador do podcast Inteligência Ltda, Rodrigo Vilela, e o sertanejo Zé Neto.

Cantor, frei Gilson acumula cerca de 1,5 milhão de ouvintes mensais na plataforma de streaming de áudio Spotify, além de comandar o ministério Som do Monte.

Apesar disso, internautas têm resgatado declarações polêmicas feitas pelo sacerdote em suas lives, como quando afirmou que as mulheres foram criadas para “curar a solidão do homem” e que, portanto, deveriam auxiliá-los.

“Essa é uma fraqueza da mulher: ela sempre quer ter mais. ‘Eu não me contento só em ser, em ter qualidades normais de uma mulher. Eu quero mais’. E isso é a ideologia dos mundos atuais. Uma mulher que quer mais, vou até usar uma palavra que vocês já escutaram muito: empoderamento. É claro ver que Deus deu ao homem a liderança. Isso está na Bíblia. A guerra dos sexos é ideologia pura. Para curar a solidão do homem, Deus fez você [mulher]. Deus faz uma promessa para Adão: eu vou fazer alguém para ser sua auxiliar. Aqui você já começa a entender a missão de uma mulher. Ela nasceu para auxiliar o homem”, disse o líder religioso.

Em outra ocasião, em julho de 2021, frei Gilson transmitiu uma de suas lives direto de Brasília, na qual, ao lado do também frei José Lucas, pediu: “Não permitais, senhor e rainha de Nazaré, que os erros da Rússia venham a assolar o Brasil, como bem afirmou Nossa Senhora em Fátima”.

Na sequência, o colega do sacerdote complementa: “Livra-nos, mãe de Deus e nossa, do flagelo do comunismo”.

Frei Gilson também é personagem recorrente de conteúdos da produtora Brasil Paralelo, comumente associada à figuras da direita brasileira.

Repercussão

No grupo Militância Raiz, que reúne influenciadores de esquerda na plataforma digital Telegram, o frei é classificado como a “aposta da Brasil Paralelo, produtora bolsonarista, para tomar a Igreja Católica, deixar de cultuar a Cristo e passar a cultuar o Bolsonaro”.

Conteúdo sobre Frei Gilson no grupo Militância Raiz, que reúne influenciadores de esquerda no Telegram • Telegram/Reprodução

Diante das críticas feitas nas redes ao líder religioso por suas falas e posicionamentos, protagonistas da política nacional, como por exemplo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os deputados federais André Janones (Avante-MG) e Tabata Amaral (PSB-SP), se posicionaram a respeito do tópico.

No último domingo (9), Bolsonaro publicou uma imagem do frei no X. Na legenda, o ex-mandatário diz que o sacerdote “cada vez mais se apresenta como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador. Por isso, cada vez mais, vem sendo atacado pela esquerda”.

Na mesma data, o deputado da base governista André Janones (Avante-MG) repudiou as críticas feitas ao frei, chegando a declarar que a “arrogância do nosso campo se sobrepõem, mesmo com impopularidade e uma derrota cada vez mais real em 2026”.

Já na quarta-feira (12), a também deputada Tabata Amaral (PSB-SP) criticou a declaração do sacerdote acerca das mulheres, mas reiterou que encontra “muitos pontos de concordância com o frei Gilson”.

Embate

Monitoramento de conteúdos em plataformas digitais e apps de mensagens mostram que o embate entre bolsonaristas e o campo da esquerda em torno de frei Gilson ganhou força após o post do ex-presidente, na noite de domingo.

De acordo com a consultoria Palver, que acompanha mensagens em grupos abertos de WhatsApp e Telegram, o crescimento do tráfego teve início no sábado (8), Dia Internacional da Mulher, quando ocorriam 5 menções a cada 100 mil mensagens.

Dois dias depois, o volume se multiplicou por 10 e chegou a 55 menções a cada 100 mil conteúdos. A adesão de políticos apoiadores de Bolsonaro com forte base nas redes, como os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ), fortaleceu o movimento no campo conservador. Daí também vieram a resposta de parlamentares aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Dados compilados pela consultoria Bites mostram que o post de Bolsonaro sobre frei GIlson foi a postagem com maior número de menções no X. E a polêmica entre esquerda e direita nas redes rendeu frutos ao religioso.

Entre a terça-feira de carnaval e esta quinta-feira (13), frei Gilson ganhou 1,35 milhão de seguidores no Instagram. No YouTube, foram 710 mil novos inscritos, saindo de 6,05 milhões para 6,75 milhões. No TikTok, ganhou 180 mil novos seguidores, chegando a 856,6 mil.

Citado pela PF

O nome do frei Gilson aparece no relatório da Polícia Federal (PF) que investigou a tentativa de golpe de Estado envolvendo Bolsonaro e aliados.

No documento apresentado em novembro passado, a PF diz que o frei teria recebido a “oração do golpe” feita pelo padre José Eduardo de Oliveira e Silva, pároco da Paróquia São Domingos em Osasco, na grande São Paulo.

O texto, compartilhado no dia 3 de novembro de 2022, pedia que todos os brasileiros, católicos e evangélicos, incluíssem os nomes do então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e outros 16 generais quatro estrelas em suas orações.

Embora seja um dos 36 indiciados no caso pela PF, Oliveira e Silva não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Por sua vez, frei Gilson não foi indiciado pela PF, nem denunciado pela PGR.

A CNN busca contato com o frei Gilson para comentar o caso. O espaço está aberto.



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