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IML diz que só DNA poderá confirmar de quem é o corpo enterrado como indigente

Por Vinícius de Oliveira

Quando Alessandra Aparecida, a Tia Chica, levantou as portas de ferro do seu restaurante na Voldac para receber a equipe do aQui, revelou- se o rosto negro de uma mulher marcada pelo sofrimento. Com voz emocionada, ela relatou sua história angustiante: há 8 meses, seu filho Johnatan Gilberto, carinhosamente chamado de Xuxu, desapareceu. Testemunhas dizem que no dia 19 de dezembro de 2023 ele foi visto entrando em um apartamento na Avenida Nossa Senhora do Amparo e que, na madrugada seguinte, pulou uma janela que dava acesso à Beira-Rio, desaparecendo sem deixar rastros. Algumas testemunhas afirmam que ele foi jogado no Rio Paraíba, enquanto outras dão conta de que ele mesmo se jogou. Após uma incansável busca por respostas, Tia Chica está convencida de que Xuxu foi enterrado como indigente pelo Instituto Médico Legal (IML) de Três Poços. E ela quer o corpo de volta.
Tia Chica é empresária do ramo alimentício desde o início da pandemia. Sem renda fixa e separada do marido, virou arrimo da família. Empregou dois dos filhos, incluindo Xuxu, que deixou um casal de filhos. “Após separar-se da esposa, ele começou a ter problemas psicológicos. Passou a usar drogas e se envolver com pessoas não confiáveis. Até hoje eu não sei o que aconteceu. Não sei se jogaram ele no rio ou se ele pulou. Mas neste momento tudo isso é o que menos importa. Eu só quero que essa dor de não saber o paradeiro do corpo dele acabe e eu possa enterrá-lo com dignidade. Fui inúmeras vezes ao IML, mas não querem devolver o corpo do meu filho”, explicou tia Chica, em pedaços.
No dia 20 daquele mês, tia Chica registrou o desaparecimento do filho na DP de Volta Redonda e, na antevéspera do Natal, a imprensa noticiou que o corpo de um homem negro havia sido resgatado do Rio Paraíba, nas imediações
de Barra do Piraí. Pelas características, a família entendeu que era Johnatan. Dava para reconhecê-lo pelo braço e pela cabeça, segundo a mãe. “Eu tinha certeza de que era meu filho boiando naquela água traiçoeira. Retornamos ao IML de posse dessa informação e mesmo assim continuavam afirmando que nenhum corpo tinha chegado lá nessas condições. Procurei o Corpo de Bombeiros e consegui uma foto do cadáver encontrado no rio. Retornei mais uma vez ao IML. Nesse momento, pressionamos os funcionários de lá. Os agentes públicos ficaram sem opção, entraram na sala e encontraram toda a documentação do corpo do meu filho e também todos os objetos dele”, revelou, ainda revoltada.
Segundo informações do próprio Instituto Médico Legal, o corpo boiando em Barra do Piraí foi enterrado no cemitério de Vargem Alegre, 12 dias após ser resgatado, mas sem qualquer identificação. “Nos trataram muito mal. Não quiseram nos dar atenção. Devem ter julgado que era só mais um negrinho que morreu. Mas esse negro tem família. Ele não é um indigente. Tem nome, sobrenome e uma mãe que não vai descansar enquanto não reaver o corpo dele”, completou tia Chica, afirmando que levará o caso às últimas instâncias. “Não vou desistir”.
Como justificativa, Ricardo Barcellos, chefe do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro, disse que as informações apresentadas pela família, como, por exemplo, a cor da roupa usada por Johnatan no dia de seu desaparecimento, não batiam. Além disso, a identificação de cadáveres em Volta Redonda é feita apenas por exames clínicos e não pelos parentes. “Desde 2017 o IML de Volta Redonda, assim como diversos do
Rio de Janeiro e até do Brasil, já não utiliza mais o método de reconhecimento, pois é um método horroroso. Primeiro, porque é sujeito a fraudes e equívocos. A pessoa vai ver um cadáver completamente desfigurado, sem nenhum sentido, num ambiente sem segurança biológica. Além do mais, eu tenho vestígios de provas criminais ali dentro, eu tenho outros corpos; o corpo está pelado, costurado. É um ambiente nefasto. É um estupro psicológico passar por isso”, justificou Ricardo.
Ainda de acordo com o chefe do IML, dos métodos aplicáveis para reconhecimento de cadáver, só mesmo o teste de DNA poderá afirmar se o corpo reclamado por tia Chica é ou não o de Johnatan. “Em 95% dos casos confirmamos a identidade do cadáver através da impressão digital. Mas também temos a antropologia forense através da qual buscamos identificar algo que individualize esse paciente, que seja possível ser confrontado em prontuário. Podemos usar a arcada dentária caso ele tenha uma ficha odontológica e a gente consiga fazer um confronto com uma documentação prévia. Outra forma é através de exame de DNA, que é o único jeito que ficou para o filho dessa senhora”, explicou, confirmando que lembra-se bem de tia Chica. “O problema é que não temos sua ficha dentária e não tem como comprovar a identidade dele pela impressão digital. Ficou para o DNA”, reforçou.
Quando questionado do porquê de tanta demora para apresentar o resultado do DNA, Ricardo lembrou que a demanda do IML é grande e leva tempo para finalizar o procedimento. “A análise é feita no Rio, e por lá passam exames do estado inteiro. Não é algo rápido. Mas já pedimos celeridade no caso”, afirmou, sem convencer Tia Chica. “Essa demora é torturante e desumana com os familiares”, rebateu ela, que promete levar o caso à Justiça. “Já está na mão da minha advogada. E tenho certeza de que não fui a única a passar por isso. Tem outras mães na mesma situação que eu. Uma, inclusive, morreu sem saber onde o corpo do filho foi enterrado. Isso não pode ser normal. Não pode ser comum. É preciso parar com essa falta de respeito”, detonou tia Chica, entre lágrimas e revolta.

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