O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a inflação persistente pode manter as taxas de juros mais altas por mais tempo do que o esperado, aumentando os riscos fiscais e financeiros em todo o mundo.
Os preços persistentemente altos dos serviços — que incluem cortes de cabelo, hotéis e restaurantes — bem como a escalada das tensões comerciais estão sustentando a inflação e aumentando a perspectiva de que as taxas de juros permanecerão altas por algum tempo ainda, advertiu o FMI nesta terça-feira (16) em seu mais recente Panorama Econômico Mundial.
A advertência destaca que a economia global ainda não está livre de problemas no que diz respeito à inflação, explicando a cautela dos bancos centrais em reduzir as taxas de juros.
Os altos custos dos empréstimos, por sua vez, estão prolongando a pressão sobre as finanças das famílias e das empresas.
Na semana passada, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que as autoridades do banco central dos Estados Unidos precisavam de “maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável” em direção à sua meta de 2% antes de avançar com o primeiro corte na taxa de juros.
Mas, o Banco da Inglaterra não reduziu as taxas no mês passado, embora a inflação do Reino Unido tenha desacelerado para a meta de 2% do banco central em maio. Entretanto, a inflação de serviços ficou acima do esperado.
O banco inglês enfatizou que “a política monetária precisa ser restritiva por um longo período de tempo, até que o risco de a inflação se tornar incorporada acima da meta de 2% se dissipe”.
Em seu relatório desta terça-feira, o FMI disse que ainda espera que os principais bancos centrais reduzam os custos de empréstimos no segundo semestre do ano. Ele prevê um corte pelo Fed antes do final do ano, disse o economista-chefe Pierre-Olivier Gourinchas a jornalistas.
O FMI acredita que a inflação global desacelerará para 5,9% este ano, de 6,7% no ano passado, em linha com sua previsão de abril.
O órgão culpou a inflação persistente dos preços dos serviços — parcialmente impulsionada por salários mais altos — por “atrasar o progresso” na redução da inflação geral.
“A inflação dos preços de energia e alimentos já está quase de volta aos níveis pré-pandêmicos em muitos países, mas a inflação geral não está”, disse Gourinchas.
Ele acrescentou que “o aumento dos preços dos serviços e dos salários pode manter a inflação geral mais alta do que o desejado”, o que representa um “risco significativo” para o crescimento econômico, acrescentou.
As tarifas prejudicarão os padrões de vida
O FMI também observou que o aumento das tensões comerciais “poderia elevar ainda mais os riscos de curto prazo para a inflação, aumentando o custo dos produtos importados”.
Nos últimos meses, os EUA e a União Europeia aumentaram as tarifas sobre os carros elétricos fabricados na China, motivados por preocupações de que os empregos locais e os setores estratégicos poderiam ser eliminados pelas importações chinesas baratas do mundo, incluindo aço, baterias, semicondutores e minerais essenciais.
Gourinchas disse que o “aumento das medidas unilaterais”, incluindo as tarifas, era uma “preocupação fundamental” para o FMI.
“Na verdade, isso distorcerá o comércio e a alocação de recursos, estimulará a retaliação, enfraquecerá o crescimento, diminuirá os padrões de vida e dificultará a coordenação de políticas que abordem os desafios globais, como a transição climática”, afirmou.
O FMI acredita que a economia global terá uma expansão de 3,2% este ano, conforme previsto em abril. Mas o órgão rebaixou sua previsão para o crescimento dos EUA para 2,6% — 0,1 ponto percentual abaixo do projetado em abril.
A economia que engloba os 20 países que usam o euro deverá ter uma expansão “modesta” de 0,9%, 0,1 ponto percentual acima do previsto em abril.
O FMI também revisou para cima suas previsões de crescimento para 2024 para a Índia e a China, que agora espera que se expandam em 7% e 5%, respectivamente — em comparação com as previsões de 6,8% e 4,6% de abril.
O crescimento projetado para os dois países seria responsável por metade da expansão global.
“As economias dos mercados emergentes da Ásia continuam sendo o principal motor da economia global”, disse Gourinchas.
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