O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou, nesta terça-feira (18), a presença do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na semana passada, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Em meio a várias críticas a Campos Neto, Lula afirmou, em entrevista à rádio CBN, que o presidente do Banco Central parece estar pleiteando uma vaga no governo de São Paulo.
“O que é importante é saber a quem esse rapaz [Campos Neto] é submetido? Como é que ele vai numa festa em São Paulo quase que assumindo a candidatura a um cargo do governo de SP? Cadê a autonomia dele?”, comentou Lula.
Questionado sobre uma eventual impressão de que Tarcísio teria influência nas decisões de Campos Neto no Banco Central, Lula respondeu: “olha, sinceramente, [Tarcísio] tem mais do que eu”.
“Não foi que ele se encontrou com o Tarcísio numa festa. A festa foi do Tarcísio para ele. Foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de 10,50%.”
“Sabe, então, quando ele [Campos Neto] se autolança para um cargo, eu fico me perguntando: nós vamos repetir o [Sergio] Moro? O presidente do Banco Central está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? O paladino da justiça com o rabo preso a compromissos políticos?”, criticou Lula, citando o ex-juiz federal, atual senador, que também foi ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro.
O jantar oferecido no Palácio dos Bandeirantes, no último dia 10, reuniu cerca de 60 pessoas, entre banqueiros, empresários e ex-ministros. Campos Neto foi nomeado para o BC por Jair Bolsonaro, de quem Tarcísio foi ministro e é colocado como herdeiro político visando a eleição presidencial de 2026.
Ainda sobre o presidente do BC, Lula disse que Campos Neto “tem lado político” e trabalha para prejudicar o país.
A CNN tenta contato com as assessorias de Campos Neto, Tarcísio e Sergio Moro sobre as falas de Lula.
Lula também falou sobre o perfil que considera ideal para a presidência do Banco Central: “uma pessoa séria, responsável e imune aos nervosismos do mercado”.
“Ele tem que dirigir a política monetária desse país levando em conta que precisamos controlar a inflação e fazer o país crescer”, completou.
Taxa de juros
Também na entrevista, o presidente defendeu que o país não pode ter uma taxa de juros proibitiva para investimentos produtivos.
O chefe do Executivo criticou o atual patamar de 10,50% da Selic e disse que os juros devem recuar para se igualarem à inflação que, em sua avaliação, está “controlada”.
“Como é que você vai convencer o empresário de fazer investimentos se ele tem que pagar uma taxa de juros absurda? Então, é preciso baixar a taxa de juros, compatível com a inflação. A inflação está totalmente controlada. Agora, fica-se inventando discurso de inflação do futuro, que vai acontecer. Vamos trabalhar em cima do real”, afirmou.
As declarações de Lula ocorrem na véspera em que o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará sua próxima decisão sobre a taxa Selic, com ampla expectativa do mercado de manutenção dos juros no patamar atual, encerrando um ciclo de sete cortes consecutivos.
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