Por Mateus Gusmão
Os filiados ao Partido dos Trabalhadores vão escolher os presidentes dos diretórios municipais da legenda em 6 de julho, em uma eleição direta. Em Volta Redonda, onde o PT já teve grande protagonismo, ela tem tudo para ser emocionante. Afinal, a legenda vem perdendo espaço a cada ano que passa e, na atual Câmara, nenhum vereador é do partido. Pior. Os votos dos petistas na cidade do aço estão à míngua. Prova disso é que o ex-presidente Jair Bolsonaro teve mais votos do que Lula em 2022.
Todos esses fatores, é claro, devem impactar a disputa interna pela presidência do PT de Volta Redonda. Um dos candidatos é Marcos Araújo. Prestes a completar 62 anos, com mais de quatro década de trajetória no partido, ele não se apresenta como novato – mas como alguém disposto a dar um novo rumo à sigla. Concorrendo com Marcos, aparece o professor Alexandre Habibe, que foi candidato à prefeitura de Volta Redonda em 2024, ficando em terceiro lugar, com menos de oito mil votos.
Com apoio de grandes quadros do PT – como Marcelo Freixo, presidente da Embratur; e o deputado federal Lindbergh Farias –, Marcos Araújo desponta como favorito para vencer as eleições e assumir a presidência da legenda. Em entrevista exclusiva ao aQui, Araújo detalhou suas propostas para o diretório local e não fugiu de temas espinhosos, como o avanço da direita na região, o desempenho tímido de Lula nas urnas locais em 2022 e as possíveis alianças par 2026. “Entre as nossas prioriodades está a formação política da militância, especialmente na área da Comunicação Social. com foco em redes sociais e plataformas digitais.
Precisamos aprimorar nossa atuação nesses espaços, fundamentais no debate público contemporâneo, enfrentando com seriedade a desinformação, os discursos de ódio e o preconceito”, afirmou, ressaltando querer reestruturar todas as secretarias internas do
partido – como as de juventude, mulheres, sindical, LGBTQIA+ e movimentos sociais – e retomar o contato direto com a população. “Queremos voltar a produzir boletins e informativos. A população precisa saber, de forma clara e acessível, o que o PT tem realizado em nível nacional e quanto tem sido investido em Volta Redonda em áreas como saúde, educação, cultura, habitação e esporte”, destacou.
Outra proposta de Marcos Araújo – que também foi assessor da exdeputada Cida Diogo, viceprefeita de Neto entre os anos de 1997 e 1999 – é a criação de um Fórum Permanente com representantes da sociedade civil. “A ideia é discutir coletivamente o futuro da cidade, com planejamento e visão popular. Volta Redonda precisa voltar a ser pensada com e para o povo”, completou. Sobre sua preparação para assumir a presidência do PT, Marcos é direto. “Estou no PT há mais de 40 anos. Um partido q u e nasceu na luta da classe trabalhadora e que, em seus 45 anos, acumulou erros e acertos, mas sobretudo construiu um legado transformador para mihões de brasileiros.. Atuei no movimento sindical, na iniciativa privada e no serviço público. Isso me deu maturidade e capacidade de articulação para conduzir, junto com os companheiros, a reconstrução do partido aqui”, completou.
Caso assuma o comando dos petistas voltaredondenses, Marcos Araújo terá um grande desafio: fazer o eleitorado de esquerda crescer. Questionado sobre a derrota de Lula para Bolsonaro na cidade, em 2022, ele justifica dizendo que a desinformação foi um fator central. “Quando a população tiver acesso real ao que o governo Lula tem feito – principalmente para os mais pobres –, ficará evidente o contraste entre um projeto democrático e outro autoritário. Lula não prega violência, não é racista, defende os direitos das mulheres, dos povos indígenas e da população LGBTQIA+”, comentou, ressaltando que as pessoas precisam entender que Lula depende de um Congresso.
“Que é majoritariamente fisiológico para governar. Essa compreensão política é fundamental para ampliarmos nossa base de apoio”, completou. Para Marcos Araújo, o
crescimento da direita não é algo consolidado. Ele acha que muitos que se dizem de direita sequer sabem o que isso representa. “Se perguntarmos o motivo dessa escolha, poucos saberão responder. É um fenômeno mais emocional do que ideológico. Há também o medo: quem sempre foi privilegiado se sente ameaçado por políticas de redistribuição”, completou.
“Veja a resistência à isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Os que têm altos salários não querem pagar mais. Ou a proposta de acabar com a escala 6×1 no comércio: o trabalhador exausto é contra, mas os grandes empresários não abrem mão”, disse. Na hora de falar das eleições estaduais em 2026, Marcos prega uma aliança ampla para vencer o atual presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, que deverá ser o candidato da direita no Rio de Janeiro. E de Cláudio Castro também. “Defendo uma aliança ampla, envolvendo forças de esquerda e centro, tanto no cenário federal quanto estadual. Tudo indica que vamos apoiar Eduardo Paes para o governo, com Fabiano Horta (petista e exprefeito de Maricá) como vice”, pontuou.
Para o Senado, Marcos não titubeia e diz que o partido tem um bom quadro. “O nome mais forte do PT hoje é o da Benedita da Silva. Uma mulher com trajetória incontestável, que já foi senadora, governadora, ministra e hoje está na Câmara”, disse. Questionado sobre muitos petistas de Volta Redonda apoiarem candidatos de outras cidades a deputado estadual e deputado federal, Marcos Araújo disse não ver problemas. “É afinidade política. Mas nossa militância jamais apoiaria candidatos do PL ou de partidos que não defendem nossas bandeiras”, crê. Sobre possíveis nomes do partido para deputado estadual e federal em 2026, Marcos mantém a linha democrática: “A decisão não é minha, é coletiva. Mas temos quadros preparados. Com reorganização e trabalho sério, podemos voltar a ocupar esses espaços institucionais”, concluiu.