Neto já imaginava que seria fácil vencer Maurinho
Por Vinícius de Oliveira
Na cidade do aço, a reeleição do prefeito Neto chamou a atenção. O resultado foi inconteste e acachapante. Obteve nada mais nada menos que 72,84% dos votos (109.688). Sem dar chances aos oponentes, Neto viu sua margem de eleitores crescer significativamente do pleito de 2020 para as eleições de 2024, mesmo com Mauro Campos, um dos empresários mais ricos de Volta Redonda, embora polêmico, em seu encalço. Aprontou horrores. “É importante frisar que, em 2024, a candidatura de Mauro Campos investiu mais de 400 mil reais para tentar rivalizar com o candidato doPP,oquefoiemvão, pois Mauro descobriu que dinheiro não compra carisma”, avaliou muito acertadamente Anderson Xavier, professor do IFRJ (Instituto Federal do Rio de janeiro) e um dos dirigentes do Psol-VR.
Dono de uma vastidão de terras em Volta Redonda – perdendo apenas para a CSN e alguns outros poucos latifundiários – e administrador de empreendimentos do tipo ‘Minha Casa, Minha Vida’, que empregam algumas centenas de funcionários, diretos e indiretos, Maurinho não conseguiu converter todo o seu capital em votos. Ficou em segundo lugar, com 13,54% (20.386), mas só porque os demais adversários eram ainda mais desconhecidos do que ele e com menos verba para queimar.
Para os críticos, Maurinho pecou principalmente na arrogância. Segundo uma fonte do aQui, que conhece como ninguém tanto o atual prefeito quanto o empresário do Novo, os erros de Mauro ficaram claros quando ele soltou a frase “Só quem nunca teve um carro moderno para achar que um Fusca 69 é bom”, referindo-se à comparação dita por Maurinho durante o debate da TV Rio Sul.
“Ele errou. Errou mais quando disse que já tinha viajado para Dubai, China e Europa, tentando imitar Pablo Marçal, sem o carisma e a técnica de coach do original”, pontuou a fonte. “Ele no debate falava agressivo. Parecia estar xingando o telespectador”, pontuou. E foi assim nas redes sociais. “Ora batia no Neto, depois nos vereadores, sobrou até para os eleitores que, segundo ele, estavam vendendo votos para Neto”, acrescentou. “Isso só irritou quem ia votar”, sentenciou.
Ela foi além. Disse que Maurinho durante a campanha eleitoral foi visto pelas pessoas ‘dando esporro em público na sua própria equipe’. Sem falar que, ao andar pela periferia, disse em bairros de posse que ia cobrar impostos de todo mundo. “Um erro de principiante”, definiu. “Além disso, Maurinho teve Neto como adversário”, disparou.
‘Melhor voltar para os negócios dele e esquecer a política’
Dário de Paula, sobre Mauro Campos
Ela tem razão. Na entrevista ao aQui na semana passada, o candidato do Novo chegou a dizer que mais de 70% dos volta- redondenses não seriam tão inteligentes, pois teriam votado em outros candidatos. Enalteceu, bem ao seu estilo, apenas seus ‘próprios eleitores’. “Foram os inteligentes que conseguiram entender o que seria muito melhor para a cidade (… ) pessoas íntegras que viram que os benefícios imediatos são muito menores que o futuro brilhante que os esperavam”, pontuou.
Mais do que criticar o nível de inteligência dos volta-redondenses, sobretudo dos eleitores de Neto, Maurinho criticou o próprio prefeito com tanta veemência que isso teria aumentado sua rejeição. “Ele é um empresário pouco conhecido da população e atacou um político amado pelo povo de Volta Redonda. Adotou a estratégia errada. Quem critica o Neto perde a simpatia dos volta-redondenses”, avaliou o comunicador Dário de Paula.
À la Pablo Marçal, Maurinho tentou provar para seus eleitores, com vídeos sarcásticos de criatividade duvidosa, nas redes sociais que sua vitória significaria uma vida de bonanças, como se todos fossem virar milionários como ele de um dia para o outro. Assim como os paulistas eliminaram o aventureiro coach, os volta- redondenses também mostraram nas urnas que não acreditam nas mudanças e que estão imunes a marinheiros de primeira viagem. “Nos vídeos veiculados pelas redes sociais, apesar de bem produzidos, faltou empatia com o eleitor. Quando você critica com ódio, o mal volta contra você. Melhor voltar para os negócios dele e esquecer a política”, sentenciou Dário de Paula.
Mas, claro, a inabilidade de Mauro Campos para fazer política não foi o único fator que o relegou a um pequeno segundo lugar, quase esmagado junto com os demais concorrentes. A própria trajetória de Neto também tem influência no resultado. Com a sexta vitória eleitoral, o prefeito reeleito se consolidou como o maior quadro político das últimas três décadas em Volta Redonda. “Considerado inimigo do funcionalismo público e dos professores, mas amigo dos empresários e aliado da CSN, Neto conta com apoio popular. E faz disso seu grande trunfo para permanecer no Poder Executivo e eleger quem deseja para o Legislativo”, avaliou Anderson, lembrando que no Rio de Janeiro, assim como no restante do país, as eleições de 2024 foram marcadas pelo domínio de partidos de centro, direita e extrema direita. “O destaque eleitoral fica para o crescimento do PL, que venceu em 22 cidades, e para o PP, vencedor em 17, dentre elas, Volta Redonda”, completou.
Ainda de acordo com Anderson, mesmo milionário, Mauro Campos teria dificuldades para enfrentar Neto de igual para igual, pois assim como dinheiro não era problema para Maurinho, também não faltou para a campanha de Neto. “As eleições de 2024 foram as primeiras realizadas após a efetivação das emendas de relator ou, como ficaram popularmente conhecidas, orçamento secreto ou emendas Pix. Este processo injetou inúmeros recursos nas prefeituras municipais, sem a devida transparência. A cidade de Volta Redonda, por exemplo, virou um enorme canteiro de obras em pleno ano eleitoral. Este derrame de dinheiro no município obviamente fortaleceu a atual gestão e seus apoiadores”, avalia o professor do Psol.
Anderson tem razão. A candidatura de Neto recebeu R$ 850.000,00 de doação do PP. Com estes valores, sua campanha adesivou metade da cidade e espalhou panfletos em cada canto do município, coisa que Mauro Campos também tentou fazer. “Neto contou com panfletagem em todos os bairros da cidade, além de um investimento significativo em propaganda nas redes sociais. Com aporte financeiro para suas campanhas, os candidatos a vereador apoiados por Neto bateram recordes de votação. Em 2020, apenas 4 vereadores eleitos conseguiram mais de 2 mil votos. Mas, em 2024, este número chegou a 14. Isto pode se justificar pelo número reduzido de candidaturas, mas principalmente pelo alto investimento em propaganda eleitoral”, analisou.
O dirigente partidário faz questão de lembrar que a divisão da esquerda também foi responsável pela vitória retumbante de Neto. E responsabiliza principalmente o deputado estadual Jari Oliveira (PSB) pelo racha daquela que sonhava ser uma frente ampla. “Além dos motivos citados anteriormente, temos também a divisão da esquerda volta-redondense protagonizada pelo PSB, através da candidatura de Arimathéa, considerado um mero representante político do deputado estadual Jari. Se Neto sai vitorioso do processo eleitoral deste ano, podemos afirmar que o maior derrotado é Jari, que apostou em uma candidatura que teve votação abaixo das expectativas e que não chegou perto dos 22 mil votos que o deputado obteve em Volta Redonda no ano de 2022”, provocou Anderson.