A importância do Sul Fluminense para a política do Rio de Janeiro – e nacional – ficou evidente na terça, 15, quando diversas autoridades estiveram na região, entre elas o presidente Lula, acompanhado por ministros e deputados – estaduais e federais. Lula & Cia atraíram uma penca de prefeitos que acompanharam a comitiva até Resende, onde a Nissan anunciou investimentos e geração de empregos.
Também estiveram na Serra das Araras para acompanhar as obras de construção das novas pistas de descida e subida, que estão saindo do papel depois de 33 anos que consumiram milhões e milhões de reais em pedágios na Via Dutra– que é o mais caro de todas as rodovias federais existentes no Brasil. Tem mais. Pegaram carona na base do 0800 para ‘filar’ um churrasco na casa de Pezão, em Piraí.
O Sul Fluminense não é foco dos políticos à toa. É que somados existem mais de 1,5 milhão de eleitores nas 12 cidades que compõe o Médio Paraíba. É muito voto para ignorar. Já decidiu até algumas eleições para o governo do Estado. E nas eleições presidenciais, apesar da derrota para Lula, Bolsonaro se deu bem em quase todas as cidades da região. O governador Cláudio Castro, que deve se candidatar ao Senado, já começou, inclusive, a se vender como o político que mais fez investimentos no interior. E os prefeitos, por enquanto, o idolatram.
O presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, que tem tudo para sair como pré-candidato ao Governo do Estado, com apoio de Cláudio Castro, já anunciou que vai levar o Parlamento Fluminense para todas as cidades do estado para popularizar seu nome por todas as regiões. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), com grande popularidade no Grande Rio, já começou a garimpar apoios de prefeitos do interior, como o prefeito Neto, para viabilizar seu sonho de chegar ao Palácio Guanabara. Mas não será fácil. Muito pelo contrário. Neto mesmo não estaria disposto a arriscar seu cacife em torno de uma aliança com Paes.
Se depender apenas de Neto, o candidato de Cláudio Castro terá ajuda do interior. É que, desde que assumiu o Governo em 2021, após o impeachment de Wilson Witzel, Castro – então vice-governador – teve que ampliar sua base de apoio. E distribuiu recursos e mais recursos para as cidades do interior para conseguir se reeleger em 2022. A estratégia deu certo, prova disso é que Castro teve o apoio de mais de 80 prefeitos na eleição e venceu o pleito já no primeiro turno.
No Sul Fluminense, por exemplo, Castro, que levou cerca de dois anos para aparecer na região, passou a contar com apoio de Neto, prefeito de Volta Redonda, sempre que pode faz elogios públicos ao governador. Na quinta, 10, em entrevista a Dário de Paula, não deixou por menos. “O melhor governador do estado do Rio que já tivemos é o meu amigo Cláudio Castro. Sou muito grato a você. Você é campeão. Governador Cláudio Castro, campeão, nunca ninguém ajudou tanto Volta Redonda como esse cara está ajudando”, disse sem pestanejar. O ex-prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable, por sua vez, já passou, desde que foi nomeado como subsecretário do Gabinete do Governador, a chamar Cláudio Castro de ‘meu líder’.
Tem mais. Dos 12 municípios do Sul Fluminense, por exemplo, nenhum é governado por um político do PSD, legenda de Eduardo Paes. Pior. Todos fazem parte da base de apoio do governador Cláudio Castro. O desafio de Paes deverá ser conseguir apoio desses prefeitos em 2026. E para reverter o quadro, Paes pode ser que tenha o apoio dos dois deputados estaduais da região: Jari Oliveira (PSB) e Munir Neto (PSD). Munir é do partido de Paes e não deve deixar a legenda para a próxima eleição. Já o PSB de Jari Oliviera faz parte da base aliada de Paes na prefeitura do Rio e deve manter a aliança para 2026. “O desafio de Paes é se fazer conhecido no interior. Ele tem grande aprovação no Grande Rio, mas hoje o que decide a eleição é o interior. Paes terá que conquistar apoios no Sul Fluminense e esse será um grande desafio”, analisou um político a pedido do aQui.
A jornalista carioca Berenice Seara, especialista em cobertura dos bastidores da política fluminense, publicou,no dia 5 de abril, que Eduardo Paes teria se aproximado do prefeito Neto, de Volta Redonda. Tem mais. A notícia ainda dava conta que Neto teria assumido a linha de frente da pré-campanha de Eduardo Paes, inclusive fazendo articulações com prefeitos do Sul Fluminense.
Neto, no entanto, jurou que sequer conversou com Paes e desse que vai seguir a liderança do presidente do seu PP e líder do partido na Câmara, Doutor Luizinho. “Nossa gratidão ao governador Cláudio Castro, por tudo que ele fez por nossa cidade, não permite que seja diferente. Ele e Doutor Luizinho nos estenderam a mão no momento mais difícil enfrentado por Volta Redonda. Por esta gratidão, por estar no PP e por tudo que defendo na política, minha decisão será tomada a partir destes dois grandes parceiros que tive e tenho. Gratidão não prescreve nunca”, disse em nota enviada à jornalista Berenice Seara.
Bacellar de olho no Governo
Já o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, que é presidente estadual do União Brasil, também se posiciona no jogo político como pré-candidato a governador. Reeleito por unanimidade para a presidência da Alerj em fevereiro – inclusive com votos dos deputados Jari Oliveira (PSB) e Munir Neto (PSD), Bacellar é tratado como sucessor do grupo de Cláudio Castro. O próprio governador já sinalizou a possibilidade de apoiar Bacellar a sucessão.
O desafio do presidente da Alerj, entretanto, é se tornar mais conhecido no interior. Como presidente do União Brasil, Bacellar perdeu duas eleições importantes ao lançar candidatos pela legenda. Em Barra Mansa, com Marcelo Cabelereiro; e em Barra do Piraí, com o delegado Furtado. Por sorte, o UB apoiou candidatos vencedores em outras cidades, como Volta Redonda, com o prefeito Neto; e em Resende, com Tande Vieira.
Bacellar sabe da importância de fazer seu nome crescer no interior. E, diante disso, quer levar a Alerj para todos os municípios do Rio, fazendo eventos itinerantes do Parlamento que comanda. “Vamos ouvir, aprender e trazer para este plenário projetos que contemplem os reais interesses dos mais de 16 milhões de habitantes do Estado”, disparou ao ser reeleito presidente da Casa de Leis.