Em audiência da delação de Mauro Cid, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), questionou o ex-ajudante de ordens sobre quando Jair Bolsonaro (PL) teria solicitado seu monitoramento.
O questionamento consta em um dos vídeos que compõem a lista de materiais da delação de Cid divulgados por Moraes na quinta-feira (20). Confira abaixo a transcrição da conversa:
Alexandre de Moraes: Quando o ex-presidente solicitou o meu monitoramento? Vocês fizeram como?
Mauro Cid: Eu solicitei ao coronel Marcelo Câmara.
Alexandre de Moraes: Ele que fazia essa parte?
Mauro Cid: Não sei quem era o contato dele. Nunca perguntei obviamente quem era o contato dele. Isso é bem clássico das operações de inteligência e das Forças Especiais. É a compartimentação da informação. O contato é dele. Se muita gente ficar ligando para o contato, acaba caindo o contato. O que eu sei é daquele elemento do TSE. Eu recebia várias mensagens durante o dia, eram mais de cem, duzentas mensagens como ajudante de ordens, pedidos, denúncias de muitas coisas, lamentações. Era um balcão do que tinha que chegar ao presidente. A quantidade de gente que estava instigando a fazer alguma coisa era muito grande. Até papeis, documentos pessoais, mandavam, olha isso aqui, olha outra coisa. Era muita coisa. Às vezes uma informação pinçada no meio de cem era mais uma doideira de tantas outras que eu recebi nesse período. Eram várias. É porque não pegaram tudo. Pegaram as mais relevantes. Tanto que eu falei das pessoas que eram mais relevantes, que estavam ouriçados para que acontecesse alguma coisa.
Alexandre de Moraes: Coronel, o senhor já tinha dito no depoimento anterior, e hoje disse novamente, que o pedido do presidente Bolsonaro para me monitorar foi porque ele achou que eu pudesse me encontrar com o vice-presidente General Mourão. Na agenda do General Mourão, do dia 15 ao dia 30 ele não estava em São Paulo. Não era mais fácil consultar a agenda dele?
Mauro Cid: Ministro, mas eu creio que foi consultado também. O que acontecia lá, até para explicar a dinâmica para o senhor entender, o presidente recebia muita informação não confirmada, muitos informes, pelo celular dele. Quando ele recebia, pelo perfil dele, já ficava nervoso, irritado, e mandava verificar. Eu não posso garantir para o senhor que foi isso, mas foi isso que eu conversei com o coronel Câmara depois, o que que seria. Mas se era para outra finalidade, eu não consigo garantir para o senhor.
Quebra de sigilo de vídeo
O ministro Moraes retirou o sigilo dos vídeos da delação do tenente-coronel Mauro Cid dois dias após a Procuradoria-Geral da República (PGR) oferecer denúncia contra 34 pessoas no âmbito da investigação de aponta uma trama golpista no país.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos denunciados pelo procurador-geral Paulo Gonet, acusado de cinco crimes:
- organização criminosa armada;
- tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- golpe de Estado;
- dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima;
- e deterioração de patrimônio tombado.