Esta foto registra o momento em que, no dia 13 de maio de 1888, foi sancionada a Lei Áurea, que determinou o fim imediato da escravidão no Brasil. Hoje, portanto, celebramos os 137 anos desse marco jurídico incontestável — ainda que distante de representar a verdadeira libertação de um povo submetido por séculos à escravidão.
A abolição veio sem garantias, sem reparações, sem qualquer projeto de inclusão social — e, por isso, ainda hoje os efeitos dessa omissão histórica se arrastam pelas estruturas sociais e se revelam nas desigualdades que marcam, com crueldade, o cotidiano de milhões de brasileiros.
Não falo apenas do passado distante. Anos atrás, presenciei — e vivi — uma situação que escancarou o quanto o racismo segue pulsando, de forma vil, disfarçada e covardemente silenciosa, em muitos espaços. Um episódio de natureza brutal e esdrúxula, que expôs a ferida aberta da exclusão, da humilhação, da violência que ainda se impõe sobre vidas e histórias negras. Foi impossível não reconhecer ali o eco sombrio de um sistema que nunca foi totalmente desmontado.
Diante disso, lembrar o 13 de maio não pode ser um gesto de celebração vazia. É um convite à reflexão dura: que liberdade estamos, de fato, construindo? Que justiça foi feita? Quantas gerações ainda precisarão resistir até que o racismo seja, enfim, apenas uma mancha do passado — uma lembrança triste, silenciosa e fria, sepultada sob a pedra de uma lápide que há de encobrir, em cova rasa, anônima e cercada de desprezo e degradação, o último e execrável dos racistas!
Marco Antonio Soares de Souza
Magnífico Reitor da Univassouras