Uma investigação da Polícia Civil, que desarticulou uma quadrilha de ladrões de celulares no Rio de Janeiro, aponta que os criminosos agiam a mando do Comando Vermelho e tinham o aval da facção para atirar nas vítimas.
“Durante as nossas interceptações telefônicas, os criminosos davam a seguinte ordem: se não entregar o celular, atira. Isso demonstra que eles não tinham nenhuma preocupação com a vida da vítima”, revelou Pedro Brasil, titular da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD).
Após dois anos de investigações, a DDSD identificou todas as etapas do crime. A primeira envolvia o roubo de celulares em áreas de grande circulação, como Duque de Caxias, o Calçadão de Bangu e a Central do Brasil. Outros núcleos eram responsáveis pelo desbloqueio dos aparelhos, extorsão das vítimas e lavagem de dinheiro. Segundo a polícia, os líderes da facção forneciam armas e esconderijos aos assaltantes em troca de parte dos lucros.
Métodos adotados pela organização criminosa:
- Ameaças diretas via WhatsApp e SMS: envio de fotos de armas de fogo e exposição de dados pessoais das vítimas, incluindo endereços e nomes de familiares.
- Uso de informações adquiridas na “dark web”: criminosos acessavam bases de dados para personalizar as ameaças e aumentar sua eficácia.
- Golpes de “phishing”: mensagens falsas induziam vítimas a inserir credenciais em sites fraudulentos, permitindo que os criminosos desbloqueassem os celulares e acessassem aplicativos bancários.
- Pressão psicológica e chantagem financeira: algumas vítimas eram obrigadas a fazer transferências bancárias para evitar que suas informações fossem vazadas ou repassadas a facções criminosas.
Os autores foram identificados por meio de interceptações telefônicas e monitoramento financeiro. Ao todo, a Justiça do Rio de Janeiro expediu 43 mandados de prisão e, até o momento, 37 suspeitos foram presos. Também foram apreendidos celulares, nove máquinas caça-níqueis, joias, relógios de luxo, uma moto roubada e drogas.
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“Eles não têm o menor compromisso com a vida humana. Já ultrapassaram qualquer tipo de limite e ainda têm o aval de uma facção criminosa, que coloca uma arma na mão deles — às vezes até um fuzil — além de fornecer toda a cobertura para que possam se esconder em alguma comunidade”, explicou o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, que defendeu uma mudança na legislação para punir com mais rigor esse tipo de crime.